• Eu gosto é de apanhar (na cama)
  • Eu gosto é de apanhar (na cama)


    Li 50 Tons de Cinza até parar no quinto capítulo e desistir da leitura. Nada contra, só não me agradou muito aquele lenga lenga de romance erótico que conta história pra chegar nos finalmente. O resumo que ouvi dos amigos é que a guria se apaixona pelo cara e descobre com ele um novo mundo de prazeres que envolve o sadomasoquismo ou, no bom e velho português, dominação e porradaria. Algumas amigas e amigos ficaram em choque com o livro. Deveriam proibir inclusive pra adultos, segundo eles. “Não gosto de porrada, quem faz isso na cama também vai fazer fora dela, não sou mulher de malandro”.

    Péeen, sirene de resposta errada.

    O que você faz na cama não necessariamente reflete no seu comportamento fora dela. Se alguém gosta de bater ou apanhar, isso não reflete um comportamento sádico de quem não se valoriza ou de quem quer machucar sentimental e fisicamente o outro. O ato de apanhar é motivado por um fetiche de dominação que envolve muita coisa, mas de forma consensual. Você foi amarrado porque quis, queimaram uma vela em cima de você porque você deixou. Você sente prazer nisso. Ao contrário do que muita gente pensa, aceitar seus prazeres na cama não significa aceitar violência ou agressões de qualquer natureza na vida.

    O que muita gente ainda não entendeu é que o fetichismo pode existir sem machucar socialmente. Mais pessoas do que imaginamos têm fetiches e desejos sexuais ligados ao sadomasoquismo, elas só não externam isso por medo de julgamento. Julgamento do parceiro, julgamento dos amigos. Enquanto juízes nós temos a mania de achar que qualquer coisa que saia da linha da normalidade é errado. Enquanto seres sexuais nós temos dezenas de coisas que nos causam prazer e excitam, mas que ficam guardadas num baú. O que você precisa pra liberar isso?

    Já diziam as Frenéticas: abra suas asas, solte suas feras. Não sei por que as pessoas se prendem tanto ao que é socialmente aceitável se a cama só envolve você, mais uma pessoa (ou mais algumas pessoas) e o consentimento. Ali, naquele templo sexual, a única coisa que importa é o que pode dar prazer pra todos os envolvidos. Se você tem alguma fantasia, se quer ser dominado(a), se quer experimentar tapas e uma pegação mais hardcore, conte a quem vai pra cama com você. Pode ser surpreendente pros dois. Mas se você acha que isso é coisa de gente que não se dá valor, que não presta, que mimimi… bem, eu diria que você precisa virar uma chave aí dentro e liberar o que tá guardado no baú. Eu, por exemplo, já girei a chave e admiti que gosto de bater e apanhar na cama. E você?

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