Coisa difícil é essa de inovar as metas para um ano que começa. Tirando coisa ou outra, andamos constantemente, ano após ano, em busca de coisas as quais sabemos que não iremos realizar. Academia é a minha meta mais clichê. Todo ano prometo, e todo ano falho. Começo, fico alguns meses, me canso e paro. Sempre arranjo um jeito de dizer que não dá mais, que falta tempo, que tem outras coisas mais importantes.No final, sempre sei que puxar peso e caminhar numa esteira que não me leva a lugar algum, não é muito minha cara, mas teimosamente, insisto.
Assim como academia sempre aparece nas listas de desejo no fim do ano, outros itens, ora supérfluos, ora fúteis. E muitas vezes, esquecemos de desejar o que realmente mais importa. Pra gente e pro outro. Porque nada melhor e mais divertido do que conquistar desejos e ver aqueles aos quais queremos bem, traçando uma trilha que os faça feliz. Porque ser feliz sozinho não tem graça. Então, pra esse ano que começa, preferi deixar de lado a meta da academia e afins. Resolvi desejar pra mim e parra os que amo, contemplações mais detalhadas do que a velha “paz, saúde e dinheiro no bolso.” São elas:
1. Que nesse novo ciclo, possamos amar mais. A mesma pessoa, várias pessoas, não importa. Que possamos entender que amor é que nem água em nascente – ele continua brotando, independente do quanto já usamos dele. Amor é recurso renovável.
2. Que paremos de arrumar desculpas e comecemos a arrumar soluções. O problema existe, é um fato, disso todo mundo sabe. Mas o que você pretende fazer com ele?
3. Que consigamos nos desprender das definições que limitam – não importa, por exemplo, se ele é hétero, homo, ou bi. A definição não faz diferença alguma, quando se enxerga a pessoa por trás do conceito. Tentar infinitamente definir é a forma mais eficiente de limitar o outro.
4. Que possamos agradecer mais, e reclamar menos. Parecemos um bando de crianças mimadas quando deixamos de reconhecer as coisas boas, para reclamar das ruins. Se desafiar a passar um dia inteiro sem reclamar é uma ótima forma de percebermos o quanto somos ranzinzas.
5. Que possamos saber para onde estamos indo, ou que pelo menos nos esforcemos para trilhar uma rota. Deixar a vida levar é uma das formas mais eficientes de se tornar uma pessoa da qual você não gosta no futuro. Ideias e intuições circulam diariamente no cosmos – se sua antena está desligada, elas passam, e continuam na rota até que um outro alguém, mais atento, as absorva.
6. Que possamos romper com o que foi estabelecido anos atrás, e que não faz mais sentido hoje. Se prender a uma tradição que não faz sentido nenhum para você é uma forma de se aprisionar e de perder seu maior bem – a liberdade.
7. Que possamos pensar mais no outro, inclusive em quem escolhemos para caminhar ao lado. Que paremos de tentar transformar o outro em um personagem que se encaixa no nosso molde de perfeição, e possamos ser mais humildes para entender que devemos respeito à identidade alheia.
8. Que consigamos ser mais livres no sexo, de forma a entender que se algo te faz bem, então está tudo certo. Que possamos ver o sexo não como uma forma de satisfazer uma necessidade física, mas como uma forma de se conectar o outro e, principalmente, conhecer mais sobre quem você é. Que possamos jogar de vez na lixeira a ideia de que sexo é sujo, é tabu, que tem que ser falado em voz baixa. Hipócrita é aquele que fala mal de algo que faz e gosta muito.
9. Que possamos ter a chance de nos aconchegar mais. Aconchego anda escasso nos dias de hoje em que as coisas são superficiais de mais, fugazes de mais. Que possamos enxergar que comida não é a única coisa capaz de nos alimentar – a alma sente fome também.
10. Que possamos não nos perder diante de tantas possibilidades. Que possamos controlar nossa ansiedade para fazer escolhas, e que as façamos de uma forma serena e consciente, antes que transformemos os nossos relacionamentos e nossa vida em jogos de loteria.
11. Que possamos perdoar muito mais e conseguir a sabedoria para virar a página. Perdoar fica muito mais fácil quando entendemos que a vida é como uma faculdade – ninguém sabe de nada, e estamos aqui aprendendo todos os dias. Pra uns algumas matérias são mais fáceis, para outros mais difíceis. Respeitar as virtudes é coisa fácil – difícil mesmo é respeitar os erros.
Enfim, que possamos entender que a virada no calendário não muda nada se não mudarmos primeiro. Que possamos aprender cada dia a mais que devemos ser a mudança que queremos ver no mundo e nos lembrar que a vida é bela, mas que ela está sempre por um triz.