• Você já mora em mim
  • Você já mora em mim


    Aquela fase covarde na qual eu evitava misturar você à minha vida passou. Foi embora assim que o medo de me entregar por completo se tornou insignificante quando comparado à minha vontade de mergulhar diariamente em seus braços e de, em seu rosto, pregar sorrisos. Evaporou de vez no domingo em que eu, ao invés de inventar uma desculpa furada para sair da sua casa bem cedinho, senti que ficar colado em você até segunda-feira não seria suficiente.

    E não foi.

    Confesso: hoje eu vivo a fazer coisas que, de alguma forma, mantém você sempre presente em minha casa, espalhada em meu espaço, mesmo quando não está fisicamente por lá. Que coisas? Sempre que vou ao supermercado, por exemplo, eu compro uma caixa do seu Sucrilhos preferido e um pote daquele iogurte que você tanto curte por causa dos pedações de amora. Sabe por quê? Pois fazer isso é uma forma que eu encontrei de manter um bocadinho seu perto de mim, nas muitas esquinas e cantos da minha vida. É uma maneira de plantar você, ainda mais fundo, nas trilhas e terras pelas quais eu passo todos os dias.

    Sim, cabeça de pudim, hoje eu gosto – e faço questão! – de decorar a minha existência com fragmentos que, de alguma forma – seja pela coloração lilás ou pelo sabor de manjericão -, têm o poder de me trazer conforto; alento parecido com aquele que sinto quando penso em você vendo Grey´s Anatomy sob o seu edredom.

    Quer saber de uma coisa? Eu ficaria muito feliz se você deixasse um xampu e um condicionador dentro do meu boxe. E se tivesse o seu próprio desodorante ao lado do meu. Ah, e seria muito legal se você propositalmente esquecesse uma das suas cem Havaianas no meu apê. Que tal? Aí, quando aquela pizza de frango com catupa que você tanto ama chegar, você não precisará enfiar os seus pés de bisnaguinha dentro das minhas Havaianas e correr o risco de assustar algum vizinho por estar calçando algo parecido com pés de pato. Ou esquis, sei lá.

    Eu adoraria, também, esbarrar com uma das suas calcinhas pequenas em meio às minhas cuecas. E certamente acharia graça se em um daqueles dias em que acordo muito atrasado e bêbado de sono, eu me flagrasse tentando – sem sucesso, obviamente! – entrar em alguma das suas calças jeans apertadas. Não é uma boa? Uma confusão gostosa dessas logo cedo, em meu corpo, certamente teria o mesmo efeito positivo de um pão na chapa cheio de miolo e manteiga.

    E não pense que gosto de você apenas misturada às coisas da minha casa, em forma de Sucrilhos ou de alguma bugiganga que trouxemos de uma das muitas viagens que já fizemos juntos. Também gosto de ver você misturada à minha família, seja fazendo cara feia depois de experimentar as pingas “marvadas” do meu tio, seja comendo o imperdível risoto do meu pai, seja fazendo a minha irmãzinha feliz com balas de lichia compradas na Liberdade.

    E se você pensa que eu só falo de capas de Playboy, tatuagens e UFC nas vezes em que saio só com os meus amigos beberrões, está completamente enganada: até mesmo no boteco, entre um diálogo de borracharia e um comentário de vestiário de futebol, eu costumo citar o seu nome, a admiração que sinto por você e lembranças da nossa última viagem.

    O que os meus amigos falam sobre isso? “Bebe, Ricardinho. Bebe que a paixão passa!”.

    Aí eu bebo mais, mas, em vez de a paixão passar, eu sinto uma puta vontade de ter você verdadeiramente misturada a mim. Ou vice-versa, tanto faz.

    Vontade que me faz fechar a conta, matar a saideira em um só gole e, ao taxista, dizer o endereço da sua casa.

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