“Todos os homens são uns babacas”. É a primeira coisa que vem a cabeça de grande parte das mulheres depois de uma decepção amorosa, um SMS não respondido, uma ligação para um celular desligado, ou depois daquela sensação incomparável de ver o cara que se está a fim, sentado ao lado de uma loira “comercial de shampoo” naquela mesa de bar que você ocupava até a semana passada.
A gente amaldiçoa o universo, o karma, Murphy, a calcinha furada do último encontro descoberta bem na última hora que pode ter causado uma péssima impressão, e aquela mensagem de “saudades” que talvez tenha criado uma atmosfera nada agradável de carência e solidão. Resumindo, a gente inventa mil e uma situações dentro da nossa expectativa, arruma milhares de justificativas fajutas para o comportamento aparentemente atravessado do outro, se magoa, se fere, se reprime, se entorpece de culpa, quando o problema muitas vezes está escondido unicamente dentro da nossa travessia, e nada mais.
Desilusão amorosa todo mundo tem. Bagagem pesada, cicatrizes na alma da gente quem nem se sabia da existência, aquela dorzinha que sobe como um arrepio na espinha quando se suspira a palavra saudade. Tudo isso é resquício de um, ou vários amores, que sopraram bonitos pela janela de casa, mas logo buscaram seu caminho por debaixo da porta. Foi lindo, foi bom, foi transformador, e agora está armazenado no arquivo do nosso livro da vida como uma experiência que precisa ou não se repetir. Maravilhoso seria se a prática fosse de fato assim e a gente não buscasse somatizar tanto sofrimento passado em cima de histórias futuras. Aí do nada, o cara vira um babaca. Digo “do nada” porque geralmente um mínimo deslize fora daquilo que se entende como limite, gera um transtorno cósmico capaz de ser sentido até do outro lado do planeta, e o cara que antes era legal aos seus olhos, vira um completo idiota como todos os últimos que você conheceu.
Acontece que o cara não é um babaca, às vezes ele só é desligado e não fica de olho no celular de 5 em 5 minutos para saber se existe alguma mensagem ou ligação perdida. O cara não é um babaca, muito possivelmente a loira do bar é apenas uma amiga de anos que existia na vida dele muito antes de você. O cara não é um babaca, ele simplesmente não estava a fim (direito dele), a química não foi bacana, o encontro não foi o que ele esperava e por isso não te ligou depois daquele jantar. O cara não é um babaca, seu passado incômodo e talvez um pouco desestruturado induz uma tendência aos olhos do seu coração de procurar falhas onde não existem. Cria-se uma barreira logo de cara e o processo de paquera já começa cheio de receios, pés atrás, e comparações com relacionamentos passados. Desse jeito não tem vontade que consiga superar o trauma recorrente de um coração partido que não se permite curar.
Eu não estou aqui defendendo os homens, muito pelo contrário. Existem muitos homens babacas, da mesma forma que existem mulheres. Estou levantando a bandeira da leveza, tirando um pouquinho da paranoia em cima dos relacionamentos, e abrindo os olhos para uma realidade que tantas vezes nos impede de ser feliz de verdade.
Dá uma chance para o cara mostrar a que veio, ora bolas! Não é porque ontem ele foi um idiota com uma garota que hoje a história vai se repetir. As pessoas aprendem, se apaixonam, transcendem de fase na vida, tudo é completamente mutável. Claro que bom senso e discernimento são imprescindíveis. Não precisa mergulhar de cabeça numa relação sabendo que a outra metade não está na mesma vibe, e isso vale para ambos os lados. Mas a priori todo mundo merece uma chance, basta ter um pouco de prudência para dosar expectativa e realidade por mais difícil que isso pareça.
Se o cara for MESMO um idiota a porta da rua sempre será uma serventia da casa. Mas e se ele for um cara maravilhoso e você der um pé na bunda simplesmente por medo dele preencher os pré-requisitos básicos do manual do cafajeste? O amigo babaca da sua amiga, que já partiu milhares de corações, pode se apaixonar hoje mesmo e se tornar o príncipe encantado (ou o lobo mau) que todo mulher sempre sonhou.
No fundo, no fundo, o nosso sexto sentido costuma apitar quando vale a pena investir. E honestamente, onde existe amor nunca é um caminho em vão, mesmo que no fim algumas lágrimas decidam sorrir a dor da experiência da gente.
Ninguém, absolutamente ninguém é invariável. Os homens não são todos iguais, as mulheres não são todas iguais, mas uma coisa é certa para os dois lados: poucas coisas na vida são tão irreparáveis quanto uma oportunidade perdida.
Pré-conceitos e julgamentos prévios nunca levaram ninguém a nada. A não ser a abdicar daquele sorvete de chiclete que todo mundo torce o nariz porque é azul, mas ó, quem tem delicadeza e serenidade comprova, assim como o amor, é uma doce delícia que só precisa de coragem.