• Amor não se mede no calendário
  • Amor não se mede no calendário


    Lembro-me bem das bodas de ouro dos meus avós maternos. Eu devia ter uns doze anos quando a festa aconteceu, em um salão perto da casa em que morava na época. Depois de uma missa, respeitando toda a tradição religiosa dessa parte da família, todos se reuniram para beber e celebrar o amor daquele casal, que já completava meio século de existência.

    Algumas semanas atrás me deparei com um casal de colegas comemorando suas bodas de algodão-doce no Facebook. Parei, olhei para a postagem, troquei de aba, voltei para o post, acendi um cigarro, ouvi música, terminei o cigarro, voltei para o Facebook e o tal algodão-doce continuava lá. Minutos de pesquisa me fizeram descobrir que essas bodas significam, na verdade, três meses de casamento – no caso deles, de namoro.

    Ainda que a relação dos dois pareça ir de vento em popa, toda essa importância dada a tais datas simbólicas plantou uma pulga atrás da minha orelha. É possível qualificar um relacionamento mediante sua duração? Não acredito que seja possível responder essa pergunta com um simples sim ou não mas, se eu precisasse escolher um lado (e preciso, considerando o título desse artigo), ficaria com a turma do não – e parte do que me leva a sustentar isso provém de tudo que já vivi (e observei) em relacionamentos.

    Todo mundo já passou por um amor que, apesar de não ter durado muito, foi avassalador. Não existe pesquisa, estudo nem ciência que possa comprovar o porquê, mas você sabe que aquilo mexeu com você mais do que amores com uma duração muito maior. E isso me faz pensar que a intimidade precisa de algo que vai além do calendário: ela pede disponibilidade, esforço e sorte.

    Disponibilidade porque nem sempre a vida colabora – e, muitas vezes, estamos tão atrapalhados com nossos próprios problemas que jogamos nossa relação afetiva para escanteio. Esforço porque, mesmo com disponibilidade, é preciso lutar para compreender as necessidades do outro – e expor as suas próprias. Sorte porque, porra, sorte nunca é demais.

    Não sou hipócrita a ponto de dizer que o tempo não é um fator importante em qualquer relacionamento. É ele, afinal de contas, que permite desenvolver melhor cada uma das coisas que eu acabei de dizer. Ainda assim, ele pode se transformar em armadilha – especialmente quando traz à tona uma rotina que dá preguiça, quando acostuma e faz a grama do vizinho parecer mais verde.

    A maior lição aqui, para mim, é que não basta se agarrar nas bodas de algodão-doce, prata, ouro ou jequitibá – essa última, pasmem, comemoradas por casais que completam 100 anos juntos -, e sim compreender que o importante em qualquer relação não é seu tempo de duração, mas sim o que fazemos com cada minuto que passamos dentro dela.

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