Ele escreveu mais uma carta de amor, mas não a entregou. Essa poderia ser a sua história ou até quem sabe a minha, mas hoje falo sobre o Pierrot. O alvo das suas cartas e também de sua afeição era uma jovem chamada Colombina. Como todo amor covarde e mal-resolvido, Pierrot acaba nunca entregando suas cartas e, de longe, vê Colombina se apaixonar pelo viajante que naquele carnaval passava por sua cidade. Seu nome: Arlequim.
Arlequim era a surpresa e a aventura, mas quem Pierrot era? O amor que não se concretiza. Colombina vai embora com Arlequim deixando a cidade e Pierrot para trás. Dizem que todo carnaval tem seu fim e, como previsível, o de Arlequim e Colombina também teria. Após mais uma briga, Colombina encontra uma das cartas de amor de Pierrot entre suas coisas. Ela percebe seu amor por ele e volta para sua terra natal para ficar com seu, recém-descoberto, amado.
A história acabaria aqui, mas todo carnaval também tem seu começo. Pierrot e Colombina agora são um casal, mas quando essa época do ano vem, Colombina secretamente procura no meio das pessoas, não o alvo do seu amor, mas aquele que a fez sentir paixão, o viajante Arlequim.
Todos já fomos o Arlequim, a Colombina e o Pierrot de alguém: Já amamos nossos amores de inverno e desejamos nossas paixões de carnaval. Já fomos a aventura de alguém, superficiais como uma poça, e já sofremos, profundos como um oceano, pela paixão mal-concretizada.
Essas são as fases que todos um dia devem atravessar. E o segredo está aqui: devemos atravessá-las, jamais ficar. Não se permita ser a Colombina para sempre – se dê a chance de tentar e continuar tentando. Não se deixe ser apenas Arlequim e seja mais que uma boa, mas perene, memória; e não seja Pierrot – ame com suas atitudes e não só intenções.
Os três nos ensinam que, ainda que todo carnaval tenha seu fim, não podemos guardar nossas cartas para sempre. Não guarde as suas também.