Minha sobrinha insistia tanto para brincar no parquinho da Frozen que pensei, por um instante, que fosse uma espécie de cosplay da Disney dentro de um shopping baiano.
Longe disso: Eram só meia dúzia de bonecos gigantescos e meio macabros, um escorregador sem graça e uma piscina minúscula de bolinhas azuis e brancas.
Uma merda, é claro, mas não para ela, que precisava de qualquer coisa que a arrancasse do tédio de um shopping center.
Quanto ao tédio, aliás, eu a compreendo intimamente: qualquer boneco macabro é melhor do que nada. E quando a gente precisa muito, qualquer coisa parece grande coisa.
Você entendeu bem, amiga: Essa historinha banal foi pra te dizer que ele provavelmente não é tudo isso. Ele provavelmente é só mais um cara.
Não quero dizer que a sua paixonite é uma grande imbecilidade, longe de mim (logo eu, campeã mundial de paixonites imbecis?), mas é sempre bom saber que o outro não é um semi-deus.
Às vezes a gente quer de uma maneira quase cega, de tão intensa, acreditar que alguém pode ser indiscutivelmente especial. A ideia de cruzar com alguém incomparável e insubstituível (mesmo que só uma vez na vida) é realmente sedutora, mas eu ouso dizer, com o meu irritante ceticismo romântico, que ninguém é realmente incomparável.
E ele já vacilou que eu sei. Já te deixou esperando, você me contou. Já te disse aquelas coisas meio insensíveis e já deixou de te encontrar por preguiça – então, mesmo que pra você ele continue sendo tudo isso, aceite: ele é só mais um cara, errante e imperfeito como todos os outros.
Você pode até se deixar enlouquecer por esse que é só mais um cara se estiver entediada demais para conseguir evitar. Mas não esqueça, pelo amor de você mesma: há muitos parques de diversões com bonecos menos macabros e escorregadores mais atraentes.