Existe um lugar especial no meu coração para as subversivas. Ali exatamente entre a Beyoncé e a Frances Wright. Esse coração que reconhece por aí as Simones de Beauvoir, as Beatrix Kiddo e a mina que toma fontana ali no Largo toda sexta, tem uma queda por quem é livre. E as loucas são livres. Miga, seja louca.
Porque é na sua loucura que você retoma o mundo. Eles te chamam de nomes zoados por aí, na roda dos babacas você tem uma nota e um ranking, mas não falam isso na sua cara, né? Não sem proteger as bolas com as duas mãos. Essa loucura tira o script das mãos dos discursos prontos e torna a vida um grande show de improviso. Eles podem rir das piadas prontas, mas você ri de todo resto.
Essa sujeira toda que a gente vê por aí, a mancha arraigada dos conceitos alheios, pode ser arrancada com sua loucura. E ainda que não arranque, meramente disfarce, ainda que a sujeira esteja incrustada até demais por onde você pisa, então você coloca um salto maior. Mas nunca, nunca, acredite que a loucura é devassidão.
Porque já te fizeram ser coisas demais. Nem queria me estender aqui, mas te orientaram a ser uma moça de família, alguém que se dá ao respeito. Alertaram sobre os perigos de ficar pra titia. Falaram do seu cabelo, do batom, da roupa de academia. Encucaram com a sua profissão, com as curvas do seu corpo, com os caras que acordaram com você. Já se incomodaram até com seu esmalte que é vermelho e não uma francesinha. Mas ninguém pergunta o que você quer da vida. Eles só querem a ordem.
Eu não. Eu quero a loucura.
Quero a loucura porque ela é o tratamento de choque a curar o habitual. Ela hospitaliza o corriqueiro e opera o medíocre. É o megafone para o mundo ensurdecido, e ele precisa ouvir.
Seja o que você quiser ser, na hora que você quiser. Mas, miga, seja louca.
Texto postado originalmente em @A Copy of Me.
