• O que é que o Grey tem?
  • O que é que o Grey tem?


    O que é que o Grey (personagem umidificador de calcinhas do livro/filme 50 Tons de Cinza) tem de mais fascinante?

    Dinheiro? Nananinanão. Ou todos os ricaços do planeta seriam capazes de provocar orgasmos múltiplos em mulheres que não são adeptas de relações estritamente comerciais.

    Algemas? Elas ajudam, obviamente, mas não garantem a inclusão de pegadas na “Calçada dos Picas”. Se garantissem, alguns cliques em um sex shop virtual já seriam suficientes para tornar um cara fascinante ao quadrado.

    Sucesso profissional? Isso é admirável, não nego. Mas está longe de ser uma característica imprescindível para virar os olhinhos da mulherada, principalmente daquelas que não sentem a menor vontade de bater uma siririca para os homens que estampam as capas da VOCÊ S/A e da EXAME. Ou a maioria dos meus amigos estagiários já teria cometido suicídio. Porque pior do que ganhar mal é não ganhar nem um mísero gemidinho, convenhamos.

    Nada? Deixa de ser ciumento, irmão. Ele tem algo, óbvio que tem. Ou o cara não teria penetrado (perdoe-me pelo duplo sentido) na ala mais nobre do imaginário de mulheres de todas as cores, várias idades e muitos amores; do mais acanhada à atrevida.

    Então o quê? Hein? Difícil de responder, não acha? E sabe por quê? Pois o que ele tem de mais fascinante é, justamente, um notável tom de mistério, uma nebulosidade constante que dificulta uma definição concreta e sem margem de erro, um quê maiúsculo de indefinição que faz dele um homem de passos irresistivelmente imprevisíveis, como sempre são as próximas páginas dos suspenses que não conseguimos parar de ler. Compreende?

    Para arrancar um suspiro repentino da mulherada, o Grey vai – em segundos – do frio polar ao calor de encharcar lençóis. Não só isso. Ele também surpreende – e muito! – quando deixa de lado o mocinho gentil e, abruptamente, transforma-se em um sádico dominador com notas de crueldade e aparentemente sem limites. E assim, oscilando entre extremos, fazendo que elas não fiquem estacionadas em uma só sensação e sempre impedindo que a mente da leitora consiga prever o momento exato da próxima chibatada – ou demonstração de afeto – o Grey consegue pirar o cabeção da mulher já cansada de viver entre “homens-só-isso” e “homens-apenas-aquilo”; caras que, quando dizem ser brutos, assim permanecem do papo à cama, imutáveis feito testa com overdose de botox. Homens que, quando resolvem ser sensíveis, assim continuam até na hora em que elas querem mesmo um macho chucro, muito mais pra tapa do que pra cafuné seguido de “I love you, baby!”.

    É claro que o Grey, além de conter um X difícil de ser solucionado, também é interessante por causa da soma de características atrativas que carrega. Mas essa soma nada seria se levasse sempre ao mesmíssimo resultado ou a algo possível de ser suposto antes mesmo da realização da ação.

    Os homens sabem que as mulheres amam surpresas, mas muitas vezes se esquecem de que a mais efetiva das surpresas, geralmente, é moldada à base de transições comportamentais inesperadas, que fogem à rotina; e não de laçarotes, objetos brilhantes e caixas de papelão.

    Conscientemente ou não, elas desejam um “homem-kinder-ovo”, cara que não perderá a capacidade de tomar atitudes surpreendentes – sempre para o bem, óbvio! Não estou falando de começar a cozinhar metanfetamina azul ou coisa do tipo. Um cidadão que, por portar um “ponto cego” no fundo do olhar, manterá vivo dentro delas um desejo quase insuportável de decifrá-lo. Entende? Pois qual é a graça de saber que, pelo resto da vida, ela encontrará o marido estirado no sofá, vidrado em futebol na TV e disposto a transar, apenas, da mesma maneira (chupadinha aqui, chupadinha lá, papai-e-mamãe, de quatro e olhe lá) que transam desde o dia em que o Faustão começou a deprimir os nossos domingos? Nenhuma, não é mesmo?

    Mesmo querendo domar os homens mais arredios com o auxílio de padres verborrágicos e alianças douradas, no fundo e de maneira quase inconsciente, elas amam conviver com a eterna sensação de que nunca poderão domá-los – e decifrá-los – por completo, que sempre faltará “um tom de sei lá” para a total submissão. E é esse “tom de sei lá” – cinza ou não – que o Grey tem.

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