Preste atenção num fato curioso: tem muita gente solteira, maior de idade, vacinada, que tem Facebook (e um monte de outras redes sociais) e que fala com dezenas de pessoas diariamente. Gente nova num tweet, amigo de algum amigo teu que conheceste no bar, um estranho que elogiou o livro que você lia no metrô, a guria nova que comentou na sua foto do Instagram: nada é restrito apenas ao mundo online. No fim do dia, eu e você vamos ao Facebook causar um pouquinho e perguntamos, bradamos, fazemos panelaço sentimental num grande protesto levantando uma bandeira com os dizeres “Por onde andam as pessoas interessantes?”.
Eu já escrevi sobre isso há uns meses atrás quando terminei um namoro. Falei sobre a nossa geração e sobre como nos tornamos a Geração Tinder: xis ou coração pra definir quem tem a possibilidade de entrar no The Voice que é a nossa vida amorosa, onde a gente escolhe os times apertando um botão num teste cego – ou nem tão cego assim -, que só conta com fotos e poucos detalhes do ser humano. Saindo um pouco desse aspecto, a minha pergunta agora é outra. Não consigo entender como tem tanta gente reclamando que não encontra alguém, tanta gente declarando isso ao mesmo tempo, e ninguém se encontra. Ora, se existe tanta gente perdida, talvez seus pares estejam circulando por aí nessa mesma multidão.
O problema é que a gente tá esperando cair do céu um ser humano formado por uma lista infindável de características que a gente pediu pro Papai Noel, sem se dar conta que nem Papai Noel nem o tal do ser humano perfeito existem. Tentamos o tempo todo encontrar pessoas perfeitas, feitas de filme, gente que a gente adoraria assistir sentado no cinema. E quando a gente dá de cara com alguém que trabalha, estuda ou faz os dois, que mora longe, que não gosta exatamente das mesmas coisas que a gente, que vota diferente, que tem cabelo de uma cor engraçada, coisa e tal, a gente grita PRÓXIMO!
Num mundo em que encontros são tão fáceis, a gente não para de se esbarrar. Esbarramos em alguém, damos uma breve olhadinha e se a pessoa não for exatamente aquilo que a gente quer, a gente volta pra multidão pra esbarrar de novo. Falta tolerância e foco. Tolerância pra entender que nem sempre um amor bom vai caber no nosso check-list, nem sempre vai se mostrar à primeira vista. Foco pra ficar um tempo no mesmo lugar e conhecer um pouco mais sobre quem a gente encontra – afinal de contas esse é o tal sentido do encontro, todo o resto é esbarrão. Se você não perde alguns encontros, horas, papos e tudo o mais, como é que pode ter tanta certeza que não era a tal pessoa?
Você vai me dizer que nem pede muito, que esse não é seu problema. Que as pessoas que aparecem é que não te dão borboletas no estômago, não te causam azia sentimental. Mas como é que você quer sentir isso se você nem dá oportunidade pra que ela te cause isso, se ao primeiro sinal de descontentamento você pula pra próxima? Se ao invés de focar nela, você fala com mais 5 pessoas ao mesmo tempo torcendo para que algo dê certo nessa roleta russa amorosa.
O problema do mundo dos solteiros são os próprios solteiros. As regras não mudaram, nós é que nos tornamos exigentes demais pra coisas que nem podemos oferecer. Nós é que ganhamos um monte de ferramentas de comunicação que nos apresentam diariamente mais e mais pessoas e não sabemos lidar com isso. Pessoas interessantes existem ao montes, mas quanto tempo demora para você realmente identificar isso em alguém? Eu não sei. Enquanto escrevia esse texto já estava bolando a minha próxima paixonite (sendo que a última nem tinha esfriado). Esbarrões, saca? Voltei pra multidão. E você provavelmente também fez isso.