Ele me faz a mulher mais feliz do mundo. Ele me faz ter a certeza de que encontrei O Cara Da Minha Vida, apesar de eu não acreditar em nada que implique em infinitos e eternidade. Ele transforma uma terça-feira cinzenta em um sábado de sol apenas com uma mensagem de bom dia. O seu beijo no meu pescoço é a última coisa que eu quero sentir antes de dormir e a primeira, ao acordar. Ele me faz a mulher mais feliz do mundo.

Mas ele não me completa.

Eu nasci incompleta, sedenta por tudo que pudesse me preencher. Ao longo dos anos me preenchi com aquilo que me despertava mais interesse: cinema, musicais, livros, livros de ficção científica, reality shows de péssima qualidade, teatro, viagens, escrever. Poderia fazer uma lista bem maior, mas não quero aborrecer ninguém com meus gostos pessoais. Me completei com tudo aquilo que me agradava, com tudo que me fazia feliz. E ainda estou me completando até hoje. Mas eu não posso me completar com pessoas. Nem mesmo com ele.

É claro que ele tem influência sobre mim, mas eu me completo com o que eu vivencio e aprendo, não com pessoas. Ou coisas.

Se eu acreditar que ele me completa e um dia ele for embora, o que isso faz de mim? Um par de pernas andando por ai sem rumo? E o que eu era antes dele? Uma meia-pessoa encostada num canto, esperando alguém vir me resgatar? Eu sou uma pessoa inteira com ou sem ele.

Pessoas não são quebra-cabeças tentando se ajeitar uma na outra para ficarem encaixadas para sempre. Ou pelo menos não deveriam ser. Eu sou meu próprio quebra-cabeça. Quando estamos juntos, formamos uma imagem maior e mais bonita, mas separados somos igualmente completos em nossos universos próprios.

É claro que é fantástico levar uma pessoa de fora para dentro do meu mundo (eu sabia que ele ia gostar dos livros da Agatha Christie), mas é igualmente reconfortante saber que eu tenho um lugar sagrado que é só meu assim como ele tem o dele (O palco é meu. E o universo da tecnologia é todo seu).

No final das contas, Clarice Lispector é que sabia das coisas. Já ouviu aquela frase dela? “Não procure alguém que te completa. Complete a si mesmo e procure alguém que te transborda”.

Aí assim. Já achei, Dona Clarice.

andrea


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