“Para você, o que é o amor?”, perguntaram-me entre geladas, risadas descontroladas e provolones à milanesa. Não soube o que falar. Você saberia? Até pensei em repetir algumas das pataquadas que os Platões de boteco costumam mandar quando querem conquistar a atenção das gatinhas, porém, acabei optando por uma nova e evasiva pergunta (“Por que não vamos logo à questão do ovo e da galinha?”), pois todas as hipóteses que surgiram em minha mente, naquele instante embriagado, pareceram-me desonestas e totalmente inadequadas à descrição de algo tão valioso, insubstituível e essencial à humanidade.
Muitos minutos depois, já a caminho de casa e longe dos meus amigos de bar, eu resolvi fazer a difícil pergunta (O que é o amor?) ao simpático taxista que me levava bem devagarinho, sentado sobre um aglomerado de bolinhas de madeira. Por que eu decidi perguntar ao taxista e não ao sabichão do Google, por exemplo? Porque o taxista tinha cabelos brancos e usava uma aliança reluzente na mão esquerda, o que me levou a crer que ele possuía algum cacife para perguntas sobre o sentimento que está faltando por aí, até mais do que água, empregos e bom senso.
“Amor é o que me motiva a trabalhar, a semana inteira e quase sem descanso, só para conseguir levar a minha nega à Bahia todo final de ano. Você não imagina o tamanho do sorriso que ela dá quando está por lá. Nunca vi ninguém gostar tanto de acarajé e de dendê!”, respondeu-me o taxista enquanto acariciava um cavanhaque de tabagista (amarelado) e encarava a Paulista como se lá, entre bêbados sem pressa para voltar ao lar e luzinhas que dizem “Aqui existe um workaholic!”, ele pudesse enxergar uma típica tarde em Itapuã.
Achei uma linda definição, de verdade. Não foi tão poética quando a feita por Camões (“Amor é fogo que arde sem se ver”) nem foi tão porra louca quando a ‘mirabolada’ pelo velho Bukowski (“O Amor é um cão dos diabos”), mas foi bonita, ô se foi. Não achou? Eu achei linda e, principalmente, muito esclarecedora, pois me levou a perceber que o amor, apesar de parecer algo extremamente abstrato e intraduzível, é um sentimento bem simplão, que pode ser resumido em uma única afirmação: amor é enxergar a alegria de alguém como o mais eficiente combustível para chegar à sua. Afirmação que não serve apenas para descrever o amor entre namorados. Funciona, também, para definir o amor entre homens e gatos. Como eu sei? Acompanhe o meu raciocínio, por favor: quando eu faço cafuné no Temaki ou na Samira (meus gatos), eles começam a ronronar para afirmar que estão felizes, o que me enche, imediatamente, com uma alegria muito maior do que aquela que me invade quando encontro uma nota de cinquenta (de cem nunca rolou) no bolso de uma calça jeans.
Amar, meus caros, é descobrir que não há alegria maior do que aquela que brota da alegria que geramos em pessoas queridas²; conclusão que me leva a concordar com aqueles que afirmam que cozinhar é um ato de amor. Pois é mesmo, pode acreditar. É claro que muitos são os motivos (da larica à sobrevivência) que levam as pessoas a se aventurarem na cozinha. Mas eu, por exemplo, quando faço um rango à minha namorada ou a algum ente querido, não meto a mão na massa para ouvir um: “O Edu Guedes que se cuide!”. Nem despejo lágrimas aceboladas para dar uma amortecida na ansiedade e ocupar a mente. É claro que existe um pouco de ego e terapia nessa coisa toda, mas faço, principalmente, para proporcionar sorrisos que, de tão grandes, até deixam os olhos bem espremidos. Não imagina a alegria que sinto quando ouço um: “Fico tão feliz quando você cozinha para mim!”. E quando repetem as gororobas que eu faço é como se as delicadas mãos de uma habilidosa japa da terceira idade começassem a massagear o meu coração, sutilmente, fazendo-me sentir um bem-estar que não sinto nem quando eu desligo o despertador no sábado de manhã, após dizer um revigorante: “Foda-se, hoje eu não tenho hora pra nada!”. Saca?
O amor, além de ser uma ótima matéria-prima para a MPB, é entregar o gostosônico recheio da última Oreo do pacote a uma pessoa especial, pela simples certeza de que o sorrisão que ela dará depois de comê-lo não deixará você se arrepender por ter cedido a parte mais nobre da bolacha (ou biscoito, caso você seja carioca) e matará, totalmente, o desejo mais doce do seu coração.
Agora peço licença, pois preciso imprimir este texto e entregá-lo aos meus amigos de bar para não deixá-los sem a minha definição do tal amor e, com sorte, descobrir que eles também pensam assim, e que me amam o bastante para me darem a última batata frita do rolê.