• A arte de deixar ir embora
  • A arte de deixar ir embora


    Li uma vez num livro que a gente sempre reconhece quando foi amor. Foi amor nas contas de telefone ou no histórico do chat, foi amor no Paris 6 e no dogão da esquina, foi amor na escada do prédio ou na cama do seu melhor amigo em alguma festa regada a álcool.

    São traços bem firmes que mostram o amor que existiu ali: curvas em que mãos deslizam, lábios contorcidos, quadril gingando prum lado e pro outro. Se você pudesse dar um close e desacelerar a cena, iria se encantar com a forma com que olhou pra ele(a) o tempo todo. Iria se encantar com os detalhes, como sempre se encantou. Talvez você até se apaixonasse de novo, mas acabou.

    Não tem nada mais difícil do que chegar naquele momento em que você olha pra pessoa que você ama e reconhece que foi amor, mas acabou.

    E como é que a gente abre a porta gentilmente e ajuda a carregar as malas de quem a gente amou, assim, sem remorso? Como é que a gente deixa ir embora quando uma parte grande e forte da gente grita desesperadamente sobre a falta que aquela pessoa vai fazer? Não tem como. Vai ter dor física, vai ser uma confusão gritante dentro da sua cabeça e você vai resistir, a solução vai ser tentar de novo. E de novo. E mais uma vez. E daí a coisa desgasta, mas você não quer isso, você não quer levar tudo às ruínas.

    Então como é que faz com a dor?

    Não faz. A gente só aceita.

    Chega um ponto, um determinado ponto lá na frente, que você vai se acostumando. Não vai ser agora, não vai ser numa manhã de domingo ou no filme da sessão da tarde. Vai ser quando a ficha já tiver caído umas trinta vezes e a ideia tiver martelado a sua cabeça. Sei bem como é porque já passei por isso, já tive que ajudar na mudança de um amor que eu achava que ainda morava aqui. Mas, se te consola, te digo uma coisa: aprender a deixar ir embora foi uma das coisas que mais me ajudou a tirar um peso das costas.

    Deixar quem a gente ama ir embora é um ato de coragem. É reconhecer a história que aconteceu, sem tirar nenhuma importância dela, e entender o que é melhor para os dois. É preservar o que houve de bom e abraçar a memória daquilo como um passado gostoso que você viveu. E bola pra frente.

    Deixar alguém ir embora quando não dá mais é perceber que nem só de amor o amor vive, engraçado pensar nessa frase, mas é bem isso mesmo. Nem só de amor a gente vive, talvez você me entenda, talvez vá entender em breve, o que importa é que ele fez casa. E se eu bem entendo de algo, é que eu sei que amor é abrigo. Quem tiver que ir, vai. O tempo ajuda a lidar com isso. E se tiver que voltar, bem, o tempo cuida disso também.

    ass-dani

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