Dentre os tantos travadores de risos, destruidores de alegria e podadores de liberdade que eu conheço, nenhum é tão poderoso quanto a reputação. Esse sentimento capaz de nos fazer sentir seres humanos terríveis simplesmente por termos feito aquilo que queríamos fazer. Essa coisa que nos rouba dezenas de orgasmos, nos priva de bebedeiras épicas ou nos trava a garganta quando precisamos dizer algo que, na maioria das vezes, realmente precisa ser dito.
A reputação nos torna um pouco menos donos de nós mesmos. Porque se qualquer vontade nossa é capaz de nos tornar socialmente condenáveis, é natural que a repensemos. E se não escutamos os conselhos opressores de nossa reputação – ou da nossa consciência a respeito dela – nos culpamos cruelmente pela imagem que os outros criaram de nós.
A verdade é que uma bela reputação – aquela que as pessoas, ainda que secretamente, admiram – é a de quem se limita a ser escravo apenas de suas próprias vontades. De quem não dá explicações, não reprime vontades e se mantém fiel aos seus princípios e à sua liberdade.
Preocupar-se em ter uma reputação ilibada – daquela gente que nunca enlouquece – cria uma atmosfera teatral absolutamente intragável: um personagem socialmente aceitável e, quase sempre, sem nenhuma graça.
Alguém que não tem coragem de assumir os próprios defeitos, os próprios desejos, os riscos pela própria felicidade. Alguém que se conhece tão pouco que precisa da aprovação alheia para compreender-se no mundo, e de cuja consciência de si é tão confusa – ou inexistente, mesmo – que a reputação vira personagem principal e a liberdade, coadjuvante.
E se existe um clichê que eu adoro incondicionalmente, é este: o que os outros pensam é um problema deles. Se conheça, se liberte e se assuma em cada escorrego. Nada é suficiente para as más línguas – então, nos preocupemos com as boas e sejamos, de uma vez por todas, suficientes para nós mesmos.