Muita gente procura uma cara-metade e se desespera ao constatar que quase todo mundo disponível está morrendo de medo de se jogar numa relação. Aí, entra numa dessas redes sociais quaisquer e desanda a falar mal de tudo e de todos. Enumera os absurdos já ocorridos, conta os casos em que foi passado para trás e se sente péssimo por não ter um relacionamento como os “de antigamente”, duradouros e de uns bons cinqüenta anos de estrada.
Essas pessoas não percebem, por exemplo, que os relacionamentos antigos eram vividos em situações muito diversas da nossa. E a melhor explicação que se tenha para a firmeza dos relacionamentos talvez seja a própria sociedade na qual eles estavam inseridos. Vejam só, com a mulher ainda muito dependente do marido e alguns conceitos machistas perpetuados, era bem mais entendível que os casamentos durassem. E, outra, o divórcio não era visto com bons olhos. Nem era um processo simples.
A complexidade das relações sempre existiu – cada qual de acordo com o seu tempo. Ao invés de jogar toda a frustração na Rede, sugiro sempre uma conversa com as pessoas mais velhas. Elas podem dizer que nem tudo é tão simples assim. Que essa coisa de metade da laranja é uma grande bobagem e que decepções, desventuras e outros passos em falsos sempre existiram. Não adianta querer apressar nada. Às vezes, queremos tudo de um jeito, mas a Vida planeja de outro.
O que mais me preocupa nesses casos de gente inconformada por não achar ninguém é que, certas vezes, a própria pessoa não faz uma auto-avaliação. É incapaz de se olhar no espelho e ver se precisa mudar algo. Repete pra quem quiser ouvir que “quem gostar de mim tem que aceitar do jeito que eu sou”. Não, cara. Se você for um babaca, ninguém vai te aceitar. Mais: se você não compreender a liquidez dos relacionamentos hoje, vai continuar achando que tudo que começa é feito para durar pra sempre.
Não é muito bem assim, não.
Bauman, para quem não sabe, é um grande pensador dos nossos tempos que ajuda a entender melhor como se moldam as relações. De fato, muitos não querem “se prender”. Preferem se deixar levar pela maré e ir se ajeitando conforme conhecem e verificam a compatibilidade com alguém. Entretanto, ao menor sinal de algo errado ou “endurecimento” na relação, pulam fora. Cria-se, claro, casos fugazes e sem o aprofundamento que, às vezes, um dos dois quer. É por isso que, antes de criar expectativa em algo ou alguém, se precisa aprender a ser feliz sozinho.
O que direi aqui talvez não seja nenhuma novidade, mas é preciso, primeiro, o indivíduo se bastar para que, depois, possa constituir um par. Esse não é um aprendizado fácil. Há quem supervalorize as relações amorosas e acredite que a felicidade plena só pode ser encontrada se estiver com alguém. Nisso, não enxerga que, bem antes de ser um casal e ter as necessidades de um casal, o seu sorriso precisa aparecer sozinho. Numa analogia, nenhum passarinho aprende a voar com outro. E só depois de ter suas asas prontas é que, enfim, encontra outro para fazer um ninho. Tem gente querendo fazer ninho antes de saber voar.
Sei que ter alguém ao lado para dividir momentos é muito bom, mas esse não pode se tornar um objetivo de Vida. Ninguém arruma ninguém por alguma obrigação, por um dever. É preciso gostar de estar com si mesmo antes de, enfim, se jogar em alguma relação. Sem pressa, sem pressão, sem estardalhaço. Você precisa também ser feliz sozinho.