Você, diferente do que prometeu depois de dar tchau, não ligou para ela no dia seguinte. Nem no seguinte ao seguinte. Aliás, ainda não ligou. E não ligará, não é mesmo? Não ligará porque ela deu pra você na noite em que a conheceu, o suficiente para fazer com que você a rotule como: “Moça que não se valoriza”. Estou errado? Pirei de vez? Sei que não. Ou terá a cara de pau de me dizer que não bateu um fio porque colocou a calça jeans na máquina com o telefone dela no bolso? Então, meu chapa, eu tenho algo muito importante a lhe dizer: você é um bundão, no sentido menos tesudo da palavra.
É um bundão porque, nos primeiros encontros, em vez de um “Vamos sair logo daqui!” que exala tesão, prefere escutar um “Vamos com calma!” pra lá de teatral, que não faz jus aos reais desejos de quem o diz. É um bundão porque dá muito mais valor à mulher que reprime as vontades que sente do que à dama que, ao invés de joguinhos estimulados – e exigidos! – por babacas como você, faz o que bem quer com o corpo que tem. Você é um bundão porque sonha em casar com uma mulher que, por medo de ouvir um “A mãe dos meus filhos não diz essas coisas!”, nunca dirá que quer ser fodida de quatro ou que morre de vontade de fazer um ménage à trois. Compreende?
“E como foi que me tornei um bundão? Por que comecei a pensar – e a agir – assim? Porque condeno as moças que fazem aquilo que faz com que eu seja visto como herói por meus amigos?”, você deve estar se perguntando. Respondo:
Você, quando criança, recebeu muitos incentivos para ser o garanhão da família, da escola, do bairro, da porra toda. Desde moleque foi encorajado a mostrar o pau, a ter orgulho da sua ereção e do seu tesão incontrolável pelas adolescentes da sua classe. Tenho certeza que seus tios viviam a lhe comprar revistas de mulher pelada e a procurar calinhos em sua mão. Tios que, quando viam uma mulher com roupa decotada e saia curta, a você – e em tom de desdém ou deboche -, afirmavam: “Olha a Vadia aí!” Foi diferente? Não, não foi. Foi assim que aconteceu. E não rolou assim só com você, meu caro: aconteceu dessa forma com a maioria dos moleques da sua geração e das anteriores. Meninos incentivados a buscar prazer sexual e a maldizer as meninas que ousarem buscar prazer sexual. Incoerente, né?
Ela – aquela que não recebeu a sua ligação -, por outro lado, sempre teve a sexualidade extremamente reprimida por todos. Nunca recebeu estímulos para se tocar e descobrir o que o próprio corpo pode oferecer de fantástico, pelo contrário: foi ensinada a enxergar a masturbação e todas as formas de obtenção de prazer sexual sem fins reprodutores e que não visam a satisfação do marido como práticas erradas, pecaminosas, atitudes realizadas somente por fêmeas sem decência, caráter e vergonha na cara. Contudo, mesmo depois de uma vida de repressão e ciente do risco de ser socialmente malvista que correria se optasse por realizar algo que comumente faz com que você seja aplaudido e visto como o fodão, ela se sentiu à vontade para lhe dar algo tão íntimo, horas depois de tê-la conhecido; sentiu-se bem o suficiente para se despir para você, afinal, pensou que estava diante de um homem sem pensamentos atrasados, que entende o óbvio: as mulheres têm tanto tesão – e direito – quanto os homens; ela pensou que estava diante de um cidadão inteligente o bastante para não julgá-la por critérios que, se pensar bem, são só preconceitos, nada além. Enganou-se, porém. E logo percebeu que havia dado a um bundão, um dos tantos que, em vez de se sentir importante pela intimidade recebida e sortudo por ter encontrado uma mulher com coragem para não ser submissa a mandamentos arcaicos, recrimina mulheres que agem como donas do próprio corpo, o que, se pensar bem, é um absurdo nível 11 (de 0 a 10).
Percebeu o quão sem sentido o mundo ainda é? Notou que você é um dos inúmeros responsáveis pela perpetuação de uma ideia – e de uma conduta – atrasada, que faz com que muitas mulheres tenham medo de expor suas vontades naturais e, consequentemente, não consigam obter o prazer que têm total direito de sentir? Notou? Então, pelo bem do mundo e daquelas que ainda virão, mude. Esqueça o que seu avô e tios afirmaram e comece a pensar com a sua própria cabeça. Pense no quão ilógico é recriminar mulheres que agem como nós, e usufruem das maravilhas que o corpo humano pode prover. Pense bem… E, se puder, faça com que outras pessoas reflitam acerca do que ainda está muito atrasado e, infelizmente, continua fazendo com que celulares não toquem e com que moças não se toquem. E da próxima vez que alguma mulher lhe der na primeira noite, sinta-se importante! Importante porque ela, ao se despir pra você, enfrentará os riscos de ser julgada por não fazer joguinhos e de não receber ligações – e o devido respeito.