• Sim: você está apaixonada
  • Sim: você está apaixonada


    Posso até confundir dengue com gripe, agrião com rúcula e gases com ataque do coração, mas conheço muito bem a gritante diferença que existe entre a paixão e alguns sentimentos com os quais devemos nos preocupar mais do que com pinta irregular e bicolor que cresce sem parar.

    Modéstia à parte, eu consigo reconhecer uma paixão como ninguém, de longe. Reconheço uma paixão com a mesma facilidade que uma mãe reconhece o choro do filho. Posso não saber se é Aedes aegypti, silicone, coral-verdadeira ou Friboi, mas, se é paixão, meu radar com certeza captará.

    Como eu me tornei um identificador profissional de paixões? Lendo Vinicius de Moraes e me apaixonando, oras. Como mais alguém pode se graduar em algo assim? Só mesmo lendo a poesia etílica do poetinha e se apaixonando, imoderadamente. Ah, também tive que desafiar o medo – e a vontade de correr para as montanhas! – que senti quando me lembrei, com assustadora nitidez, da dor que me invadiu quando um relacionamento acabou bem antes da paixão e pertinho do Natal. Mas venci!

    E você, sabe se o que sente é paixão? Ou acabou de digitar “sintomas da ingestão de cogumelos alucinógenos” no Google? Foi isso que fez há pouco, assim que seu chefe saiu de perto, não foi? Ó, eu não sou da Polishop, mas… SEUS PROBLEMAS ACABARAM! Não, eu não vou tentar lhe oferecer facas que cortam tudo (menos as Meias Vivarina) ou um livro com dez dicas mirabolantes para saber se é paixão ou influência da lua cheia. Nada disso! Só quero lhe ajudar a descobrir se está apaixonado ou se precisa, de fato, de uma camisa de força.

    Assim como as pessoas mordidas por zumbis, os apaixonados – independente da idade, gosto musical, orientação sexual e tamanho do topete – apresentam alguns sintomas universais e fáceis de serem identificados. Quais? Vamos lá:

    Os apaixonados conseguem achar uma referência ao ser que lhes desperta a paixão em todas as músicas do universo, até mesmo em Dança da Manivela, Show das Poderosas e Fim de Semana no Parque. Independente do que Mano Brown realmente quer dizer com a letra, um trecho de Fim de Semana no Parque facilmente vira lenha para idealizarem um piquenique de cinema americano com a pessoa por quem estão perdidamente apaixonados; com direito a nariz sujo de Nutella e rolamentos intermináveis na grama no Ibirapuera. Você faz o mesmo, não faz? Claro que faz. Mas saiba que não é música que está falando de vocês, e, sim, você que só pensa nele, a ponto de achar um lugar para ele em tudo que ouve.

    O apaixonado se esquece do arroz, do feijão e, até, do papel higiênico, mas nunca volta do supermercado sem um mimo àquele por quem seus olhos brilham. Ele vai ao supermercado para comprar desodorante e batatas, porém, bem antes de procurar um bom mata-CC e matéria-prima pra purê, no carrinho ele colocará o chocolate amargo que ela adora, a cerveja com notas de framboesa que ela um dia mencionou e iogurte com mel que ela não vive sem. E sabe o mais louco? No caixa, quando ele achar o valor total da compra muito alto, tirará o desodorante – bem o desodorante! Porque, ao ser apaixonado, não existe prioridade maior do que dar corda ao sorriso de quem atiça a paixão.

    Outra característica comportamental que os apaixonados comumente apresentam? Eles sempre dão um jeitinho de encaixar a pessoa por quem estão apaixonados nos papos, em todos eles. Não importa se a mesa está falando de política, sobre o novo corte de cabelo do Belo ou a respeito da próxima luta do Belfort, o apaixonado sempre acha um gancho para fazer uma menção honrosa àquele por quem seu coração acelera, podem reparar. Porque fazem isso? Porque falar daquele por quem estão apaixonados causa uma paz instantânea, é como um cafuné direto na alma.

    Mais uma? As pessoas, quando se apaixonam, tornam-se mais tolerantes às rasteiras que levam da vida. Se antes da paixão costumavam dar chiliques homéricos quando gotinhas de ketchup pingavam sobre o vestido, quando se apaixonam, magicamente, passam a rir de coisas bem piores, como cocôs ácidos de pomba que atingem os olhos, sem dó. Já vi paixões transformarem seres pra lá de ranzinzas em gente que acha graça quando vê a própria casa em chamas, juro. E não é incomum.

    A carapuça lhe serviu? Ótimo! Pois saiba que a paixão, diferente do que já ouvi por aí, está bem longe de ser uma doença. Ok? Preocupe-se quando seu braço esquerdo começar a formigar ou se encontrar manchas vermelhas espalhadas pelo corpo, porém, se a única coisa que está sentindo é vontade de passar dias inteiros no colo de alguém, apenas relaxe. E goze da capacidade que só o apaixonado possui de sorrir, abestalhado, mesmo quando descobre que o Poupatempo não fará jus ao nome que tem.

     ass-ricardo


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