Agora que já aprendi a dizer “adeus” – e a chutar as nádegas de todas as coisas que intoxicam a minha alma -, tenho uma nova meta: quero aprender a falar “não”.
Estou prestes a fazer trinta anos e ainda hesito na maioria das vezes em que preciso soltar um “não”, acredite se quiser. Semana passada, por exemplo, mandei um “pode ser” à gerente do meu banco, que também é minha amiga. Resultado: acabei de receber um cartão de crédito totalmente desnecessário e com anuidade bem salgada para jovens escritores. Sem contar as inúmeras vezes em que eu aceitei ofertas de trabalho brutalmente indecentes, colocando-me em intermináveis frias em troca de remunerações ridículas, que não permitem jantares fartos nem no Habib´s.
“Posso te dar balas de troco?”, perguntam-me, constantemente. E eu, em vez de gritar: “Não!” – Ou dizer: “Só se eu puder pagar a conta com torrões de açúcar! -, mando apenas um “Tudo bem”, e como uma bala atrás da outra, de raiva. “Vamos tomar umas na quinta-feira, às 19h00?”, alguém me propõe na terça-feira. E eu, em vez de dizer que não posso porque tenho dentista marcado às 18h00 e sessão de cinema às 19h45, lanço um imprudente “sim”, e passo a semana toda sofrendo por saber que entre a anestesia na gengiva e o trailer do filme, na melhor das hipóteses, conseguirei tomar um copo de cerveja apressado, o que será pouquíssimo prazeroso e extremamente cansativo.
Definitivamente, eu preciso aprender a dizer “não”. Porém, ao contrário do que muitos pensam, não é tão fácil assim.
Explico: se eu disser “não” a tudo e a todos, sem bom senso e moderação, vão me achar um baita de um egoísta – e estarão certos, afinal, quem nunca abre mão do próprio conforto em prol da felicidade alheia é egoísta, sem dúvidas. Por outro lado, se eu continuar agindo como uma máquina de dizer “sim”, vou me prejudicar severamente, pois autopreservação, em alguns casos, exige capacidade de negação, de dizer: “Hoje não, Faro!” Compreendem?
Preciso, urgentemente, encontrar o equilíbrio entre o egoísta que temo me tornar e o ser incapaz de se preservar que tenho sido nas tantas vezes em que aceito coisas que me fazem mal, e que poderia evitar com um simples “não”.
Preciso, de uma vez por todas, entender que nem sempre é possível agradar a todos. Preciso, pra hoje, compreender que sou apenas um, e que tentar estar em todos os lugares ao mesmo tempo, além de ser burrice – pela ótica da física, ao menos -, vai me desgastar além do necessário. Preciso perder o medo de encarar a cara de frustração que gerarei quando, por motivos verdadeiros – e não por preguiça besta ou individualismo extremo – precisar dizer: “Não, não dá.” Preciso, ainda em 2015, conseguir dizer “não” àquilo que, desde criança, aceito por pavor de frustrar os outros, esquecendo-me de que amigos verdadeiros – e gente que realmente importa – compreenderão algumas ausências e as vezes em que direi um “não” cheio de sinceridade em vez de um “sim” acompanhado por um sorriso amarelo no rosto e um “Que merda estou fazendo!” ecoando na cabeça.
E você, já sabe dizer não?
( ) SIM
( ) NÃO