Resolvi fazer uma retrospectiva do que rolou no mundo neste ano, porém, lembrei-me de coisas tão horríveis que, rapidamente, desisti. Pensei: esta folha merece muito mais do que terrorismo, ganância, crise, Cunha, “Gay apanha, mais uma vez” etc. E decidi: em vez de falar sobre os espinhos que, neste ano, arranharam a esperança do mundo, vou presentear meus leitores com uma singela retrospectiva de nós, amor. Por quê? Porque quero que enxerguem as tantas flores que ainda restam sob os escombros deixados pela ignorância e pelo ódio. E que percebam, de uma vez por todas, a grandeza – e o poder medicinal – dos pequenos acontecimentos diários.
Janeiro
– Nós somos estranhos, não somos?
– Por quê?
– O Brasil inteiro lá fora, sob o sol, e nós dois neste quarto, sobrevivendo de Netflix, ventilador e pipoca.
– E não tá bom?
– Tá ótimo. Mas pode ficar perfeito!
– Como?
– Isso mesmo, me come!
Fevereiro
– Eu gosto de você muito mais do que curto o Carnaval.
– E desde quando você gosta do Carnaval?
– Desde o dia no qual descobri que nada me faz tão feliz quanto passar uma semana inteira com você, sem despertador para nos separar logo cedo.
– Então liga a TV pra descobrirmos a escola de samba vencedora
– Escola de samba ven…
– Tô zoando! Breaking Bad, cinema ou açaí?
Março
– Você tá feliz?
– Muito.
– Mesmo passando o seu aniversário no McDonald´s?
– Principalmente porque estou passando o meu aniversário no McDonald´s!
– Estava com vontade de hambúrguer?
– Estava com vontade de passar meu aniversário com alguém capaz de me lembrar de que companhias importam muito mais do que lugares. E de hambúrguer, como sempre. Aliás, você não vai mais comer o seu?
Abril
– Tô com medo.
– Do quê?
– De perder você?
– Não vai, prometo.
– Mesmo? Porque não terei ninguém para matar baratas.
– Compra um Raid, ué.
– Mas você também mata o meu desejo.
Maio
– Seu pai gosta de mim.
– Muito.
– Como você sabe?
– Ele gosta de todas as coisas que me fazem feliz.
– Então, por que ele não gosta de UFC?
Junho
– De quem é esta blusa no seu carro?
– É sua. Um presente!
– Não inventa, Ricardo. De quem é a porra da blusa?
– Abre o porta-luvas e leia pra mim o que está escrito no cartão azul.
– “Cabeça de Oreo, eu conheço você tão bem que tinha certeza de que se esqueceria da blusa e que ficaria puta quando encontrasse o seu presente. Rá!”
Julho
– Caralho, que pé frio!
– Pé frio, coração quente, nunca ouviu o ditado?
– Não.
– Eu que inventei. Gostou? Podemos ganhar milhões fazendo frases para biscoito da sorte, o que acha?
– Acho que estou me acostumando com a temperatura dos seus pés, o que já me parece um bom começo.
Agosto
– Ficou um pouco salgado, né?
– Não, está bom.
– Mas parece uma panqueca?
– Parece.
– Você está mentindo pra mim!
– Tô. Quero que a minha metade seja de calabresa, e a sua?
Setembro
– O que é isso?
– Um vidro para colocarmos as tampinhas das cervejas que bebemos.
– Nossa, mas vamos demorar um tempão para enchê-lo.
– Contanto que você não se encha de mim até lá, não tem problema.
Outubro
– Você quer morar fora?
– Só se eu puder continuar morando dentro.
– De onde?
– De você, ué. Não me sente aí?
Novembro
– Eu te amo!
– Você tá bêbado?
– Não, só tô apaixonado. Mas, já que tocou no assunto, o que acha de um Mojito para começar?
Dezembro
– O ano está no fim. Nossa jornada, porém, está apenas começando. E se depender do quanto eu gosto de passar por todas as estações com você e do potente combustível que o nosso amor é, iremos longe, muito mais longe do que imaginamos que iríamos quando lhe beijei naquele táxi, na noite em que nos misturamos para sempre.