Minha namorada está em Cuba, a trabalho, e ontem, depois que ela me mandou uma mensagem na qual dizia que estava indo a uma balada, eu respondi exatamente assim, ó: “JUÍZO!” Por que fiz isso? Porque eu, apesar de escrever sobre relacionamentos e dar conselhos amorosos que ajudam muita gente, sou parecido com você, irmão. Ou pensou que eu fosse totalmente imune às cagadas que o ciúme nos leva a fazer? Porque não sou, admito.
Além de recomendações completamente desnecessárias (“JUÍZO!” / “Não fique de papinho com ele!”), eu também já fiz perguntas idiotas (“Quem estava lá?” / “Por que pegou carona com ele?”) e tomei atitudes mais idiotas ainda, como fazer cara feia por causa de ligações recebidas. Esperava mais de mim, né? Pois saiba que ainda falta muito chão para que eu atinja o nível Osho de estabilidade emocional. Ô se falta! Porém, já dei o primeiro passo, e gostaria muito de compartilhá-lo com você: compreendi que as atitudes inúteis que jorram da bica do ciúme, aquelas que muitas vezes tomamos quando desejamos proteger a relação daquilo que não está sob o nosso controle, só deixam a relação mais vulnerável, o que é uma grande ironia, não acha? E burrice! É como optar por um agrotóxico que, apesar de não ser eficiente para combater as pragas, é extremamente nocivo à fruta.
A verdade é que, na esmagadora maioria dos casos, as manifestações infundamentadas de ciúme são muito mais perigosas à relação do que os xavequeiros da balada, a viagem que ela fará em julho – e que já está lhe deixando sem dormir! -, as doses de tequila que ela curte beber, o ex-namorado dela, o espanhol que a chamou de “guapa” no Facebook etc. Compreende? E supondo que alguma das coisas que mencionei realmente ofereça algum perigo ao relacionamento, não é com pedidos de juízo e chiliques homéricos que afastará tal ameaça, pode apostar. E vou mais longe: suas demonstrações inúteis de ciúme, além de não espantarem as coisas que você considera ameaçadoras, evidenciam a presença de algo que bambeia qualquer relacionamento: desconfiança. Ou não percebe que cada “Quem estava lá?” que manda é, também, um “Eu não confio totalmente em você!” que grita. Se existisse total confiança, você não se importaria com a quantidade de homens que havia com ela, certo?
Agora pense comigo: é mais fácil perdê-la se demonstrar que confia nela ou se continuar dando indícios de que não consegue confiar, por nada neste mundo? Nem preciso responder, não é mesmo? O que lhe resta, então, é confiar – e fazer o possível para que ela saiba disso. Não só isso: resta-lhe, também, dar mil motivos para que ela queira voltar aos seus braços, sempre. Quais? Incentivá-la a ir aos lugares que ela sente vontade de conhecer, sem fazer expressão de cu ou qualquer coisa que a faça pensar “Esse cara me atrasa”, por exemplo. Ou, simplesmente, apoiá-la a ser exatamente o que ela é, demonstrando, assim, que é uma companhia com quem ela pode passar longos períodos – e até vidas inteiras, quem sabe – sem se sentir sufocada, podada, reduzida. Compreende o meu ponto? E se ela, mesmo depois de tantos motivos para lhe respeitar, resolver meter um galho em sua testa? Aí, meu caro, não há nada que possa fazer para impedi-la, nada!
O ciúme, diferente do que dizem por aí, não é perfume. É veneno neurotóxico que corrói o nosso poder de enxergar o óbvio: quando queremos diminuir as chances de uma traição e aumentar as chances de uma relação durar, o melhor que podemos fazer é demonstrar confiança plena e capacidade de oxigenar em vez de provocar asfixia. Além de torcer para que o Adam Lavine não a queira, obviamente. Porque se ele a quiser, só lhe restará assinar o atestado de corno e procurar um boteco com pinga barata e um garçom paciente.