Você provavelmente errará essa pergunta.
É que o tempo tem a função extraordinária de nos lapidar. Mudamos nossas opiniões, nossas playlists, nossas roupas, nossos pratos prediletos. Nos despedimos dos nossos amores, invertemos a nossas prioridades, deixamos que a vida nos torne diferentes a cada dia que amanhece. É o fluxo natural das coisas.
E se você não estiver atento – tão atento quanto o amor nos ordena – quem você ama pode estar vivo tão somente na sua lembrança. Pode ser aquele que você conheceu há um ano, com aquela camisa surrada, ouvindo aquele disco dos Beatles, indo àquele barzinho no centro, acordando às oito todas as manhãs e amando literatura luso-brasileira.
Você reparou que ele trocou de camisa? Ele conheceu bandas novas e talvez não ouça mais os Beatles com tanta frequência. Ele mudou de emprego e talvez acorde mais cedo. Ele deixou de ler José de Alencar e se rendeu aos encantos de Bukowski. Então, vários pedaços dele já deixaram de existir.
As pessoas morrem um pouco todos os dias. Todas as vezes em que permitimos que uma parte de nós se vá, todas as vezes em que conhecemos novos amigos, novos lugares, novas paixões, deixamos que um pedaço nosso seja levado pelo tempo.
O seu amor só é amor se você repara no outro, em cada detalhe, em cada mudança, em cada novo caminho. O amor só permanece intacto se nos empenharmos em conhecer o outro tão profundamente a ponto de acompanharmos – e compreendermos – cada mudança superficial, e, ainda assim, continuarmos enxergando aquilo que é profundo, verdadeiro, imutável.
O amor de verdade aceita as mudanças, compartilha os novos sorrisos e conta as novidades. Ele se renova todos os dias, como a própria natureza humana. As pessoas nascem um pouco todos os dias. E só o amor de verdade renasce junto.
