Situação: você vê aquela pessoa-não-tão-importante-assim se despedindo de você, saindo da sua vida, abrindo espaço pra que você talvez conheça aquele grande-amor-que-ainda-não-chegou. Você se sente apreensivo, as mãos suam, bate uma coisinha estranha no peito, como se já fosse saudade.
No seu dia a dia, você mal lembra da pessoa. Ou melhor, pra ser bem justo, você lembra, mas não se importa. Você até gosta da presença, se acostumou a isso, gosta da companhia. Vocês se divertem no meio da multidão, mesmo que isso seja de 15 em 15 dias com outras pessoas passeando por vocês no meio tempo. Mas você continua sentindo uma coisinha estranha no peito, como se fosse saudade. Não é.
O grande xis da questão é que a gente não aprendeu ainda a desapegar. Se você analisar bem, a maioria de nós já entrou em relacionamentos tão furados quanto o casco do Titanic quando bate no icerbeg e fez nada. Relacionamentos que foram usados como peso morto pra segurar uma porta, que foram deixados ali na estante como enfeite. Você não sabe por que o tem ali, ele nem combina direito com o resto da casa, mas tem certo apego. Óbvio que tem. Estamos falando de pessoas, não de bebelôs comprados na 25 de março, mas ainda assim, ele não deveria estar ali.
São pessoas com quem nos envolvemos pelo simples fato de que é mais gostoso um caso à toa que o egoísmo da solidão, como diria o grande Leo Jaime. Elas chegam, causam nada demais, não extravasam a gente, são mornas. E morno é uma temperatura agradável, verdade seja dita. É aí que mora o engano, é aí que a gente para no agradável e não percebe quando a coisa toda não tem presente (e muito menos futuro). Se tirar a pessoa da sua rotina, não faz falta. Se tirar os beijos, sobram outros. Se tirar os abraços, você ainda consegue dormir confortavelmente. É uma daquelas verdades cruéis que nós tentamos esconder por conta do comodismo de estar com alguém bacana que não mexe em nada na gente. Nada. Nem no botãozinho da raiva.
Quando a pessoa decide ir embora é que você sente. Não entende bem por quê. Mas sente.
Sente a perda. Sente que os dias vão mudar. Sente o que era cômodo caindo pela janela do quinto andar. Sente que vai ter que contemplar esse espaço vazio na sua sala. Não significa que era amor, muito menos que você está devastado. Só significa que um pedaço do seu ego foi ferido, ou que um pedaço da sua vida perfeitamente encaixada no Tetris vai ter que se sacudir pra reorganizar as coisas. E vida que segue. Se dispensar o drama e um pouco daquele vitimismo do “por que você tá me deixando?”, você vai perceber que não faz falta. E que a tal pessoa é quem está certa em seguir em frente, deixando ambos livres pra algo melhor no futuro.
Então, quando isso acontecer com você, quando essa vontade de segurar no braço de quem tá indo embora e pedir pra ficar persistir, pense duas vezes. Você não precisa bancar um teatro que não tem mais plateia. Você nem precisa atuar: se não sente, deixe a pessoa ir embora. É uma ato cordial, por mais que pareça babaquice tua. Se não sente, não prenda os outros, não os faça de âncora. E da próxima vez tenha mais coragem pra ser a pessoa que tem vontade de ir embora e realmente vai, sem usar pessoas como pesos mortos para manter você preso ao chão.