Você conhece alguma pessoa totalmente avessa à novidade? Eu conheço muitas. Conheço “uma pá” de gente que nunca arrisca novos caminhos, restaurantes, tipos de macarrão, destinos turísticos, cortes de cabelo, tons de batom etc. Conheço várias pessoas que, por força do hábito e influência da covardia, dizem “Em time que está ganhando não se mexe!” para recusar todos os convites ao diferente que recebem; convites que nem sequer analisam, vale ressaltar. Conheço tantos seres com paúra de mudança que resolvi escrever este texto para incentivá-los a, finalmente, darem uma chance ao desconhecido. E faço questão de avisar: este texto pode lhe servir como uma luva, afinal, de acordo com uma pesquisa recente realizada pela renomada Universidade de Massachusetts: “A ‘novofobia’ acontece nas melhores famílias”.
Eu sei que a lasanha à bolonhesa da cantina que você frequenta todos os domingos – e somente aos domingos! – é daqui ó (da pontinha da orelha). Tanto sei que também costumo sujar minhas camisetas por lá. Mas será que, em um cardápio tão variado, nada além da lasanha presta? Mas será que, numa cidade inundada de ofertas gastronômicas, só aquela cantina vale o investimento? Será mesmo? Pense bem… E pense também nas tantas maravilhas que você pode estar deixando passar por subestimar a capacidade que o mundo tem de causar borbulhas de amor em seu estômago.
Eu sei que o quarto do hotel-fazenda em que você se hospeda todo ano – desde a época em que fazia buscas no Cadê – é confortável como colo de mãe. Ô se sei, pois, vez ou outra, eu também colo lá pra dar um relax na cachola. Mas será que não existem outros hotéis com quartos confortáveis neste mundão? Mas será que, além de “fazenda”, não há outra modalidade de hotel capaz de lhe garantir férias memoráveis? Não responda ainda! Antes, pense bem… Pense, principalmente, na quantidade de terrenos “fodásticos” que você está deixando de conhecer porque tem optado por pisar somente em terras que já contêm a marca de suas botas – as mesmas que usa desde sempre e que não troca por nada.
Do que você tem medo, hein? De esbarrar com temperos que você não gosta? De se arrepender por não ter pedido a lasanha à bolonhesa? De precisar pedir ajuda a um garçom – que não lhe chamará pelo nome – para entender como funcionam os pratos? De perceber que os travesseiros do novo hotel são menos macios do que os travesseiros do hotel de sempre? De ter dificuldade no check-in, já que o novo destino exigirá transporte aéreo? De não conseguir se comunicar por meio de gestos? Do quê? Pois, sinceramente, eu não vejo nada mais assustador do que ficar preso à mesmice por achar que ela é insuperável. Não consigo imaginar nada mais amedrontador do que me autocondenar à repetição eterna em um planeta no qual ainda há muita coisa a ser explorada, sentida, pintada, comida, fotografada, poetizada…
E, engana-se, totalmente, se pensa que este texto almeja ser apenas um empurrão em direção a novos ares do setor turístico-gastronômico. Porque sugiro que inove, também, no campo das relações interpessoais. Como assim? Pare de dizer “Não vai dar certo!” a todos os caras que não possuem as mesmas características do seu ex-namorado, por exemplo. Quem disse que um homem – ou uma mulher, por que não? – totalmente diferente do seu ex não pode lhe fazer feliz? Melhor ainda: quem disse que um ser totalmente diferente do seu ex não pode lhe fazer muito mais feliz do que seu ex lhe fez? Hein? Eu sei que você nunca se imaginou namorando um mochileiro que – diferente do seu ex-namorado economista e poupador nível hard – gasta todo o salário em bilhetes aéreos, casacos térmicos e em compras que viram milhas. Mas quem disse que a experiência com o gato de botas gastas não pode ser enriquecedora? Quem disse que você tem que ficar, pelo resto da vida, presa à sombra do que deu certo um dia? Quem disse que só há uma estrada capaz de levar à felicidade, posso saber? Pois existem muitas formas de chegar até um sorriso, acredite; e agora é uma boa hora para parar de dizer “Não vai dar, tenho que levar meu hamster ao oftalmologista!” a muitas delas.
O novo pode ser amargo, desconfortável ou canalha? Claro que pode, não vou mentir. Pode, inclusive, ser tudo isso junto. Mas pode, também, ser doce feito quindim, confortável como o colchão do Elton John (não que eu tenha dormido lá, mas tenho um primo de um amigo de um…) e cafamântico (como descrevo, positivamente, os caras que do cafajeste têm a pegada e do romântico a sinceridade e vontade de surpreender). E só há um jeito de descobrir qualé que é o lance do nuevo: experimentando-o. Dizendo “sim” a oportunidades de ampliar seus horizontes e dar de cara com sabores, cores e lambidas que nunca imaginou que pudessem existir, nem na ficção.
Tirando os carros japoneses e os bolos de avó, quase tudo pode ser substituído por algo à altura ou ainda melhor. E você só saberá que estou dizendo a verdade quando parar de responder “não” pra tudo aquilo que ainda não provou e que foge – em algum aspeto – dos padrões que lhe fizeram engolir, à força, como se fossem os únicos padrões aceitáveis nesta parada.
Não estou dizendo para cuspir no prato que comeu – e que lhe deixou satisfeita -, não. Mas, sempre que puder, pra variar, dê uma oportunidade a novos pratos e corra o risco de se flagrar sem saber se dá o braço a torcer (“Realmente existem comidas melhores do que a lasanha de sempre!”) e ou se mente por orgulho (Esta comida é boa, mas a lasanha é imbatível!).
A lasanha à bolonhesa e seu ex talvez sejam inigualáveis, não podemos descartar essa hipótese, mas essa afirmação só ganhará confiabilidade depois que você colocar muitas outras comidas e pessoas na boca, certo? Então, boca à obra. Porque o novo pode ser bom, pode ser… Não, farei jabá.