Em tempos de relações rasas, me pergunto, com alguma frequência, onde o amor sincero foi se esconder. Aquele amor que não precisa de fotos-poema, de alterações de status no facebook ou de declarações prolixas.
Tudo bem, eu confesso. Declarações públicas de afeto também me ganham. Aquela sensação gostosa de saber que o sentimento que nos serve é tão forte que quer ser gritado para o mundo inteiro. Daquelas declarações exageradas, piegas, quase feitas como um filme barato.
Mas são as declarações silenciosas que me interessam. Aquelas que só o amor maduro conhece. Quando ele está cansado e, mesmo assim, me faz uma massagem nos ombros. Quando eu acordo deitada no seu peito, abro os olhos e vejo os dele, fixos em mim, quase devotos. Quando ele me traz uma caixa de bombons. Quando deixa que eu escolha o filme, mesmo que, em matéria de cinema, nossos gostos não sejam lá tão afins.
Quando eu acordo descabelada e com a maquiagem do dia anterior borrada e ele diz que estou linda, mas, no fundo, eu sei que me pareço com um panda. Quando eu vacilo e ele perdoa. Quando eu desabo e ele me escuta. Quando eu encrenco e ele disfarça. Quando eu sorrio e ele devolve.
O que me interessa está além de um monitor frio. É o toque, o cheiro, o gosto, a energia. O que me interessa não pode ser captado por ninguém mais além de nós dois. É o instante que só nós poderemos lembrar, são os beijos que ninguém além de nós precisa testemunhar.
Não me interessa parecer amada. Me interessa querer e ser querida, de um jeito tão próprio e tão íntimo que qualquer exposição perde completamente o sentido.
Me interessa se ele ri de uma piada sem graça só pra me agradar. Se ele deixa o último pedaço de pizza pra mim. Se ele acorda cedo porque eu preciso viajar e ele quer se despedir.
Em cada detalhe, eu sei, ele se declara. E nenhuma legenda, por mais fofa que consiga ser, pode substituir aqueles olhos.
Todos esses detalhes que, de tão pequenos, são tantas vezes ignorados, são as verdadeiras declarações silenciosas de que o amor se alimenta. Textos gigantescos no facebook e fotos fofíssimas são, quase sempre, uma boa lembrança, mas servem mais para que os outros testemunhem o que só interessa a nós dois – os outros, aqueles outros que importam tão pouco quando o sentimento que compartilhamos só pode ser compreendido com plenitude por nós mesmos.
Não condeno a geração dos likes e dos relacionamentos públicos – mesmo porque eu me incluo nisso tudo. Só temo – e garanto que não posso evitar – que, em meio a tantos holofotes, esqueçamos de admirar as declarações silenciosas, as sutilezas que só o amor colore.
Temo que o amor feche as portas. Que finalmente consigamos forjá-lo, como temos tentado, com fotos de casal e corações virtuais, e ele, o amor, tão discreto e tão sutil, resolva ir instalar-se noutra freguesia.
Só temo que esqueçamos que o amor não precisa de likes, de corações pulsantes ou da aprovação alheia: ele só quer sensibilidade e uma dose de boa vontade.
É que o ego grita, mas o verdadeiro amor fala baixinho.