• A gente não quer só (ser) comida
  • A gente não quer só (ser) comida


    Alguém espalhou aos quatro ventos que sexo é coisa de homem, de macho alfa e tanto faz se é príncipe encantado ou rei do camarote, ele é quem manda. Mas acredite, dos boatos históricos este é um dos mais equivocados. Porém, como então acreditamos nisso e repetimos o erro com tantas gerações? É que a mentira foi bem contada e ficou fácil de inserir no cotidiano desta espécie maluca, chamada raça humana, que acredita em qualquer bobagem repetida várias vezes. Eles não eliminaram as fêmeas do ato, apenas as colocaram como coadjuvantes, deixando o papel principal para (rufem os tambores), os homens.

    Assim ficou bastante fácil – submeteram nosso tesão ao poder fálico masculino. Nos tornamos parte do prazer, sem tomar parte dele. Agora você contrariada, me diz: “ah, mas os tempos mudaram, descobrimos que “we can do it”, os movimentos de emponderamento feminino nos libertaram e com a ajuda da “Marie Claire”, travamos uma guerra em busca do nosso orgasmo.” E eu concordo, em partes. Não nos libertamos do harém, mas estamos a caminho.

    Afinal, muitas moçoilas da geração Y, com pleno domínio dos seus smartphones e agendas sociais movimentadas, ainda não compreenderam os mecanismos do próprio corpo, ou sequer fazem ideia de como chegar lá, ou ter uma transa digna e cair na cama exausta. O que dizer então das mães delas, que ainda falam de sexo abaixando o tom da voz, usando codinomes bobos para as partes íntimas e abafando risadinhas quando, num jantar de família, algum patriarca deixa escapar uma piadinha com a palavra “trepar”, ou algo do tipo. Somos um bando de pretensas puritanas e perpetuamos a mentira que surgiu antes das nossas avós, mas que ainda alcança nossas mini-saias colantes.

    A verdade no entanto é que adoramos sexo, tanto quanto os homens. Já passou muito do tempo em que as mulheres eram apenas objetos de desejo para os homens. Passado amigos, superem. E não importa se somos filhas, namoradas, esposas, universitária ou doutoras, também queremos foder até o dia raiar. Falamos de sexo, compramos literatura erótica, abrimos abas privadas para sites pornôs, nos masturbarmos e só queremos que nos deixem livres. Sem regras, sem amarras a menos que sejam nossos braços na cabeceira, e com consentimento, claro. Não queremos ser julgadas sobre como, quando ou com quem dormimos. Por favor, parem.

    Veja que não estou culpando homens ou mulheres pelos séculos de repressão sexual feminina. Nós mulheres, por exemplo, ainda olhamos torto umas para as outras, ainda escondemos nossos desejos e perpetuamos o tabu de que sexo bom é aquele em que você satisfaz o parceiro apenas. Somos todos culpados e também vítimas. Temos uma via de mão dupla aqui, uma mulher satisfeita na cama satisfaz também o homem e vice-versa. Se apenas um dos dois estiverem gozando, tenha certeza que alguém vai  ficar na mão. Sim, esta frase requer duplo sentido.

    E como podemos mudar isso? Bem, que tal começar assim: homens, desliguem um pouco o pornô de quinta e leiam mais sobre o assunto, vocês tem conhecimento prático, mas alguma teoria pode ser bem útil, acredite. Ah,  vale roubar algumas revistas femininas das mães, garanto que elas tem coleções completas, escondidas. Além disso, ouçam suas parceiras, por favor! Sério, tem que ser um completo tapado para não perceber um orgasmo fake, qual é? Olhem para elas, ouçam os gemidos, explorem o corpo, deem um êxtase decente e tenham certeza que, caso sua mulher fique satisfeita, ela vai ser seu maior fetiche.

    Mulheres, toquem-se, conheçam seus pontos “G”, guiem o parceiro, falem sobre o que gostam, aproveitem o momento, informem-se, permitam-se realizar fantasias, parem de falar mal “das amigas” usando o sexo como forma de afronta (pelo amor), respeitem os próprios limites e, principalmente – transem. Transem muito, sem meias, sem grilos, sem neuras. Até gozar de verdade.

    ass-  loui


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