Comodismo é uma postura bem incômoda. Na vida, no trabalho, nas amizades, nas relações amorosas, e não diferentemente, também fora delas. Mesmo quando todo o tesão de continuar naquela história já se foi a gente insiste em continuar roendo o osso.
Ligando, mandando mensagem, procurando saber como está, amando. O costume torna bem mais difícil ao término de um relacionamento atravessar aquela linha tênue entre o que era nossa vida antes e o que é agora. Mas, o fato é: esta ruptura, pelo menos momentânea, é necessária.
Antes dos julgamentos, deixo claro que sou absolutamente a favor de se manter uma amizade saudável com quem fez um bem danado à nossa vivência durante um determinado período. Acontece que nossos sentimentos precisam de tempo. Precisam se acostumar com a ausência, com os problemas que devem ser resolvidos agora apenas por uma metade, com o lado esquerdo vazio do sofá, com a realidade de quem não tem mais o aconchego do outro no fim de uma tarde qualquer.
Nenhuma adaptação ocorre assim, instantaneamente da noite para o dia. Nosso coração até engana de que dá conta do recado de sustentar uma amizade logo de cara. A verdade é que, na grande maioria das vezes, não dá para mudar o olhar sobre o outro com tanta rapidez. A gente continua querendo beijar, tocar, cheirar, sorrir aquele sorriso, se reconfortar naquele abrigo. Para ser amigo nessas situações é necessário muito discernimento, o que é bastante complicado de se manter internamente quando o rompimento ainda é recente.
Se afastar por um instante para posteriormente retomar a relação com outras perspectivas é preservar o que foi e, mais ainda, resguardar quem se é naquele momento. Reduzir as expectativas, realinhar as dores e mágoas, passar por todas aquelas fases de entendimento pós-término, para só então, se permitir nutrir novamente um sentimento saudável por aquela pessoa. Forçar uma presença quando o que cada um mais precisa é um pouco de solidão é tentar pular etapas. E acredite, nunca é bom correr demais para chegar a algum lugar. Tudo acontece quando, onde e como deve ser.
Existe uma diferença muito grande entre perder tempo e dar tempo ao tempo. E convenhamos, em uma situação tão frágil e delicada como uma separação de amores, o que deveria importar é a nossa recuperação e não a manutenção de um vínculo que tantas vezes ocorre só para demonstrar para um público ansioso uma “falsa maturidade”. A conexão de duas almas que já se relacionaram nunca se perde. Respira, relaxa e não pira. Só isso.
Na hora certa as coisas dentro da gente entram nos eixos e o mundo volta, ao menos parcialmente, ao normal. Interagir, conversar, sentar num boteco com a pessoa antes tão almejada não dói mais e aí sim uma amizade duradoura pode surgir. Antes, a menos que o ser humano esteja em um nível muito elevado de abstração, é tentativa frustrada de postergar o desapego. Eu, particularmente, ainda não atingi este patamar de assimilação. Deixa doer o que tiver de rasgar por dentro. Melhor do que trocar o curativo constantemente é poder rir a dois da cicatriz.