É difícil se olhar no espelho com um sorriso no rosto quando o resto do mundo prega que uma flacidez “fora do lugar” é de torcer o nariz.
Que é feio ter celulites, estrias, culote, rugas ao redor dos olhos, manchas, maturidade. O mundo hoje nos diz que o legal é ter um corpo esculpido por aparelhos, um estômago que não aceita carboidratos à noite e uma mente politizada de que apenas este padrão é sinônimo de saúde. A busca pelo estereótipo perfeito tem deixado a vida de muita gente chata, sem sal e sem sabor.
A gente demora, mas basta um pouquinho de tempo para se perceber que envelhecer também é bacana. Com a idade vêm as olheiras de quem tem trabalhado muito para conseguir a estabilidade dos sonhos, as estrias que exigiram que sua barriga ganhasse proporções adequadas para sustentar uma nova vida, as rugas ao redor dos olhos e dos lábios devido a todas as experiências que nos fizeram chorar e sorrir (sim, gargalhar também dá rugas). Enfim, viver deixa marcas. Algumas um pouco diferentes das que podem ser vistas em meninas de 15 anos, mas todas maravilhosas.
Não sou contra um estilo de vida saudável, muitíssimo pelo contrário. Acho que cada dia mais a tendência é equilibrar corpo, mente e espírito. O problema está na paranoia, na baixa estima, na comparação descabida com a modelo da revista, com a necessidade de atingir um patamar estético para finalmente se sentir aceita em um determinado contexto. Objetivo que muitas vezes é uma busca sem fim, já que conquistar um corpo sarado e sem “defeitos” envolve muito mais do que dedicação. Abrange genética, abdicação, gastos financeiros e restrições que podem levar até ao esgotamento emocional.
Qualidade de vida sim, neura não. Comer de forma balanceada para garantir energia para as atividades diárias, praticar atividades físicas que te façam feliz para manter o coração batendo forte, se permitir aquele chocolate depois do almoço ou a cervejinha no final de semana para alimentar o bem-estar espiritual, água para levar embora as impurezas e tranquilidade para aceitar que, talvez, o seu destino seja aproveitar 100 anos com saúde e não ser a Gisele Bündchen. O que convenhamos, é uma baita perspectiva.
Que para cada olheira que nos tire a nobreza exista uma viagem sensacional para fazer valer a pena todo o esforço. Para cada gordurinha pós-parto, o aconchego gostoso da maternidade. Para cada bumbum “normal”, oito horas de sono muito bem dormidas e uma manhã cheia de disposição. Para cada marca de expressão, uma risada interminável e sincera entre amigos. E para todas as insatisfações impostas do olhar: um espelho bem grande. Para que você nunca se esqueça de que é linda exatamente assim. Imperfeita, humana e absolutamente real.