Hesitei por algum tempo em escrever esse texto. Não quero acabar como a moça pudica que condena nudes, que menospreza o poder de um corpo, mesmo porque não é o caso. E ele pode soar moralista, é verdade, mas me adianto: não acho que mandar nudes seja condenável, mas acho – e não abro mão – que temos superestimado o corpo, a beleza e o sexo. Trocar nudes é ótimo, mas experimentem a sensação de desnudar alguém completamente, além das roupas, além dos seios, além das poses e das caras e bocas. Experimentem conhecer o outro tão bem a ponto de perceberem que o tesão não pode ser só uma imagem.
O tesão – aquele que não se dilui depois do orgasmo – precisa de muito mais do que corpos. Ele precisa de energia, de conexão, de comunicação. O tesão mais insano é o da alma. É o que explode nos detalhes. É a expressão que o outro faz quando goza, é a maneira como se pode – se é que ainda conseguimos – compreender de que maneira o outro sente prazer.
Bonito é quando se pode tirar as máscaras do outro. Bonito é quando o seu desejo encontra outro desejo parecido – e isso não pode ser captado por uma mera foto íntima. Capta-se no olhar, no diálogo, na dança silenciosa do acasalamento, que não precisa de poses ginegológicas e vazias.
Isso parece terrivelmente pudico, mas é, na verdade, apenas um olhar honesto sobre o próprio desejo, e o desejo é mais intenso quando não se esgota no corpo. O que quero dizer é que o corpo não é e não pode ser a causa: ele é consequência. O corpo goza melhor quando a alma é a protagonista.
Eu não quero ver só um pau – há milhões de paus na internet. De todos os tamanhos e formatos. De todas as raças, de todos os jeitos, fazendo tudo o que se possa imaginar, mas o que eles são? Falos, apenas, que, sozinhos, nunca serão capazes de excitar uma mulher que tenha o mínimo de conhecimento sobre a própria sexualidade.
Eu quero ver além do pau. Quero ver o que vem antes e o que vem depois. Eu quero conhecer os desejos mais íntimos, aqueles que só podem ser captados no ralo mais fétido e mais profundo da nossa perversão, aqueles que não se contentam com genitálias fotografadas, aqueles que transcendem a própria ideia pré-concebida e vazia que o sexo tem se tornado. Depois disso, os nudes serão meros detalhes complementares.
Ninguém transa com um corpo vazio. Manda nudes da alma.