Arquivo 05/2016

Se der medo: ame!

Se o peito apertar, a barriga esfriar ou o coração disparar não se assuste. É o amor pedindo licença para construir um ninho naquele abrigo. Os sentimentos vão se misturar, muitas lágrimas podem escorrer e, acredite, não existe um meio de escapar, uma dor incontrolável chamada saudade vai fazer morada na janela do tempo. Dá um pouco de receio, angustia as certezas e definitivamente bagunça o juízo. Mas, se der medo: ame! 


Me deixa ser essa metamorfose ambulante

Já fui um roqueiro que vivia a desmerecer o sertanejo – e também o samba, o funk, o forró, o pop… -, um devorador de coxinhas que se achava muito mais feliz do que os comedores de quinoa e um admirador de cinema argentino que ria, sonoramente, da cara dos fãs de Velozes & Furiosos.

Não sou mais, porém. E me orgulho um bocado disso.


Amar é se permitir mudar junto com o outro

Ninguém muda ninguém. Eu sempre bati nessa tecla. As pessoas quando mudam o fazem sozinhas. Por um descuido do acaso, do tempo, das experiências, pela própria maturidade. Desnecessário dizer que não somos os mesmos de 10 anos atrás. O jovem recém-saído da faculdade cheio de sonhos, a garota que ficava uma semana na fossa porque o cara apareceu com outra ou a pessoa que simplesmente se dava ao luxo de gastar todas as suas economias em compras em baladas sem se importar com o resto do mundo.


A dor de uma é a dor de todas

Nessa semana acordei com a notícia chocante de que uma menina de dezessete anos fora estuprada por trinta homens no Rio de Janeiro.

A revolta que sempre me acomete quando me chegam relatos de estupros ou feminicídios deu espaço a um luto feroz, mas não menos melancólico, por esta cujo rosto jamais vi e por tantas outras estupradas e mortas todos os dias no meu país, no meu estado, na minha cidade, no meu bairro, do meu lado.


Você vai perder todos os seus amigos

Por onde andam seus amigos da classe-de-não-sei-qual-ano-foi-importante? Aqueles amigos que você não reconhece mais, nem imagina o que estão fazendo da vida. Gente que já foi morada tua e hoje em dia nem conhece o capacho da entrada do teu apartamento em outra cidade.


Eu amo e odeio a saudade

Num dia em que não a sentia latejar com a mesma intensidade de agora, acabei definindo a saudade assim, ó: é um desconforto gerado pela ausência de uma presença extremamente confortável. Hoje, porém, deslocada entre um relógio parado e o celular que não vibra (não pelo motivo que desejo), sei que a saudade é mais…


Eu tive a certeza que seria amor

Vi uma foto tua ontem de noite e dei uma risadinha. Quantas risadinhas a gente não dá ao longo da vida quando esbarra com um amor adormecido que a gente nem lembra mais que um dia teve? Costumo chamar esse sentimento de anestesia consciente, dessas que a gente dá no cérebro para ver se o coração para de palpitar um pouco por toda e qualquer pessoa por quem a gente já se apaixonou um dia.


Para seduzir basta estar apaixonado

Ao contrário do que muita gente acredita sedução não é sinônimo de constrangimento. Não exige performances mirabolantes, situações forçadas, muito menos um teatro que não combina em nada com nosso jeito de ser. Despertar um brilho a mais no olhar de quem a gente gosta está muito mais associado às pequenas atitudes do que podemos imaginar.


Respire, não pire

Um dia de cada vez, unzinho só, com 24 horas não nebulosas, mas pacíficas e fluídas. Pode até parecer sonho ou comercial de margarina, mas não é. Dias menos caóticos são sim possíveis de alcançar e pode ter certeza, isso depende muito mais das suas atitudes do que consegue admitir. Acontece que lá no fundo  você sabe bem  o quanto tem pirado por pouco à toa, e isso até te incomoda, como pedrinha dentro daquela bota de bico fino mega apertada.


O seu tipo ideal é só mais uma ilusão

Nem tudo que parece é. Aliás, para ser exata, o que parece, em geral, não é.
Outro dia mesmo, disseram-me que eu parecia uma paulista. Vejam bem, logo eu, uma baiana tão baiana que come acarajé com muita pimenta dia sim dia não (não estou exagerando).

Namorar é…

Namorar é não saber onde começa você e termina o outro. Em qual parte daquele aconchego se perdeu a angústia que dilacerava a sua solidão. É quando a gente finalmente entende os motivos de tudo ter dado tão errado no dia de ontem e de todas as dores que nos prepararam para a chegada do amor. Namorar é um estado de permanência.


Sobre as delícias dos 30

Andar com os cabelos ao vento, tirar o sutiã no final do dia, passar fio dental depois daquele rodízio de churrasco, acordar no meio da madrugada e descobrir que ainda tem mais duas horas (ou que sejam cinco minutos) de sono. Libertador para não dizer revigorante. Daquelas sensações que fazem um dia de aborrecimentos valer a pena. Mas nada supera o poder do foda-se. Chutar o balde, desapegar-se dos padrões, fechar o livro interminável da culpa. Das dores e delícias da maturidade, gratidão mesmo a gente deve à maturidade.


Lugar de mulher é onde ela quiser

Era uma quarta-feira qualquer quando o moço sorriu torto pra mim e me disse que eu tinha que ser mais menina. Eu deveria ser menos militante, menos questionadora, menos eu. Talvez sentar de pernas cruzadas, retocar um batom cor de rosa, não falar palavrão, ser menos dramática. O último que me pediu calma e menos drama, eu disse não.


Amor coisa nenhuma: vaidade

Esse poderia ser mais um artigo sobre esse tema de botas batidas, cheio de frases de Bauman, Deleuze ou Bukowski, e talvez seja. Talvez seja mesmo mais um sobre amores descartáveis. Talvez seja sobre como todos nós estamos marchando em bando para esse precipício sem fundo, que é transformar o afeto em satisfação do ego.