Nem tudo que parece é. Aliás, para ser exata, o que parece, em geral, não é.
Outro dia mesmo, disseram-me que eu parecia uma paulista. Vejam bem, logo eu, uma baiana tão baiana que come acarajé com muita pimenta dia sim dia não (não estou exagerando).
Pensei que, por essa lógica – que lamentavelmente já pude comprovar muitas vezes antes de escrever este texto – aquele gato com cara de professor de literatura que eu vi no supermercado talvez seja um estudante de engenharia elétrica que fala ‘top’ e ouve Jorge e Mateus.
Ou talvez nem até ouça Tom Jobim e música Indie, talvez até já tenha lido meia dúzia de romances clássicos, mas, talvez – ora, estamos trabalhando com suposições – e apesar de tudo isso, seja um babaca.
A barba cheia e os óculos charmosos e as tatuagens coloridas podem ter me feito de idiota, e provavelmente fizeram. Ele pode ser qualquer um dentro daquela casca (uma casca maravilhosa, preciso confessar).
O que quero dizer é que uma imagem não diz absolutamente nada, e isso pode até ser um discurso clichê de coluna amorzinho, mas você ainda vai comprovar empiricamente, em qualquer fila de supermercado da vida, que eu não estou escrevendo nenhuma asneira (ao menos não desta vez): o seu tipo ideal é só mais uma ilusão.
É óbvio que determinados grupos se vestem e se portam de determinadas maneiras. É óbvio que o apreço por cinema e o bom gosto musical dizem muita coisa. Uma camisa polo, é óbvio, pode muito bem denunciar, de cara, um fanático por Whey Protein, mas nenhum traço físico, por mais convincente que seja, será capaz de te trazer a noção exata acerca dos gostos de alguém.
E nem mesmo os gostos, tão endeusados nestes tempos difíceis para os sonhadores, são capazes de dizer muito:
Babacas também gostam de cinema francês. Babacas também vão pela esquerda. Babacas também usam barbas maravilhosas. Babacas apreciam boa música e bons vinhos (de modo geral e para resumir, babacas estão em todos os lugares).
O seu tipo ideal é, portanto, apenas uma inútil peneira que te separa de centenas, talvez milhares de pessoas bacanas que você poderia conhecer.
Eu não sei você, mas eu decidi que o meu tipo ideal é quem me faz bem.
