Ninguém muda ninguém. Eu sempre bati nessa tecla. As pessoas quando mudam o fazem sozinhas. Por um descuido do acaso, do tempo, das experiências, pela própria maturidade. Desnecessário dizer que não somos os mesmos de 10 anos atrás. O jovem recém-saído da faculdade cheio de sonhos, a garota que ficava uma semana na fossa porque o cara apareceu com outra ou a pessoa que simplesmente se dava ao luxo de gastar todas as suas economias em compras em baladas sem se importar com o resto do mundo. Hoje temos contas a pagar, a deprê pelo bofe passa com um porre e uma boa dose de risadas com as amigas e as ambições se transformaram, se tornando realidade ou frustração. A questão é: sofremos metamorfoses constantes. É mais do que natural. O problema está em quem consegue acompanhar tantas transmutações.
Não é difícil escutar que relacionamentos de anos terminaram por falta de empatia. Afinidade. Depois de tantas histórias, tantas barras, tantos “poréns”, a relação acaba por um dos lados não se identificar mais com o momento do outro. Seria irônico se não exaltasse uma verdade que poucos levam com a devida seriedade: amar é caminhar juntos. Mesmo compasso, mesmo ritmo, mesmo olhar. Se um dos dois corre rápido demais ou decide simplesmente retardar o andar a parceria toda perde o equilíbrio. Quando a gente assusta aquela pessoa que era para estar ao nosso lado, infelizmente, está a quilômetros de distância das nossas vistas, vontades e expectativas.
Não somos obrigadas a acompanhar nada, nem ninguém, isso é um fato. Mas no amor se o timing não é o mesmo o relacionamento uma hora ou outra perde o sentido. A gente começa a se sentir um pingo à parte, fora do contexto, e não raramente a opção de continuar a travessia sozinha parece muito mais concreta do que permanecer em uma estrada que não te pertence. Tudo são escolhas, sem sombra de dúvidas. Mas cabe a cada um de nós decidir, por livre arbítrio, se deseja ou não acertar o passo com a pessoa que a gente escolheu para dividir a vida. Se vai aceitar as mudanças de cabeça aberta e coração tranquilo ou vai ceder perante tantas novidades.
Não será uma decisão unilateral, pelo contrário, compete a todos os envolvidos fazerem a sua parte neste acordo chamado amor. Acontece que um dos lados sempre sofre mais, o que é natural principalmente quando as grandes transformações ocorrem de mansinho e resolvem aflorar naquele dia conturbado quando menos se espera. Assusta. Quebra a rotina, paradigmas, a zona de conforto. É a vida deixando seus rastros e suas bagagens, seus sinais e suas interrogações. Ou a gente ajuda a carregar o peso do outro de anos de experiência ou vai em busca de fardos mais leves, uma procura que por sinal pode nunca ter um fim.
O que eu quero dizer é que está tudo bem em ajustar os sonhos, o relógio, a travessia para seguir bem e feliz com quem a gente ama. Faz parte rever o rumo, mudar a direção de vez em quando e recalcular a rota em prol de um objetivo maior. Não é submissão, omissão, muito menos subordinação dos nossos desejos. Eu chamo apenas de escolhas. Que como absolutamente tudo, tem 50% de chances de serem bem sucedidas ou não. E também está tudo bem se quiser abandonar o barco. Ninguém tem o poder de te julgar por, naquele exato momento, não se sentir preparada para aprender um novo balanço. Quando o trem apitar na estação embarque de corpo e alma nesta jornada que pode ser emocionante. Mas, se decidir ficar, respire fundo e não se afobe não. Certamente foi uma linda viagem e outras mais oportunas virão. Em tempo. Sempre em tempo.