“Moderninho demais você, hein”. Foi o que ouvi de um amigo da minha idade enquanto discutíamos sobre relacionamentos abertos. Ele, que pertence à minha geração, encara a ideia com pavor. Eu, que nunca tive um relacionamento aberto, defendo a ideia de que modelos de relacionamento vão muito além do jeito como nós conhecemos de nos relacionar. E qual dos dois está certo? Os dois estão.
Relacionamentos abertos são aqueles em que as pessoas envolvidas concordam em ter contato físico ou afetivo com outras pessoas. Cada casal determina suas regras que, geralmente, têm a ver com transparência, lealdade e concordância. Não é aquele auê-auê que o povo imagina, nem uma putaria desenfreada 24h por dia de entra e sai na casa de alguém. É um relacionamento como qualquer outro no qual existem regras, deveres, discussões e afins. Inclusive, pra quem acha que não existe traição num relacionamento desses, existe: basta que o outro infrinja as regras determinadas por ambos no cotidiano.
Esse tipo de relacionamento já é muito comum por aí e pode ter várias motivações: Algumas pessoas têm demandas afetivas preenchidas pelo parceiro, mas as sexuais não. Algumas pessoas têm demandas sexuais preenchidas, mas não as afetivas. Algumas pessoas têm ambas as demandas preenchidas e ainda sobram forças para que compartilhem disso. Qualquer que seja a motivação do relacionamento, a gente tem nada a ver com isso.
O grande problema dos dias de hoje não é discutir modelos de relacionamento. Não é defender se você prefere monogamia, poligamia, poliamor ou relacionamentos abertos. O problema é quando você aponta o dedo pro amiguinho e começa a discursar sobre como ele é safado, não quer nada com nada, é promíscuo, não ama a pessoa que ele escolheu, que aquilo é tudo desculpa para traição.
Quando nós começamos a repensar modelos de relacionamento, temos a ideia de que o nosso modelo é o único modelo “correto” e que qualquer outra coisa que se oponha a este modelo tem a intenção de destruir as nossas vidas. Não é assim: relacionamentos diferentes existem para que diferentes pessoas possam escolher as melhores maneiras de se relacionar. Se o seu amigo tem um relacionamento aberto, isso não interessa a ninguém além dele, da(o) parceira(o) e das pessoas que eles decidem incluir ali. Você, caro amigo, não tem que ficar apontando o dedo e cagando regra sobre como as pessoas conduzem as suas vidas. Se o modelo não te agrada, ótimo, não o siga. Se o modelo agrada outra pessoa, ótimo, deixe que ela seja feliz.
Não é questão de ser moderninho ou não quando digo que não sei de teria um relacionamento aberto, que pode acontecer e que não vejo problemas. É questão de saber como sou e como funcionaria algo assim no futuro. Ao mesmo tempo, se eu não aceitasse o modelo para mim, continuaria defendendo-o. Temos que parar com esse julgamento arbitrário do que é certo ou errado, e temos que começar a pensar no que é melhor para gente e no que não é. Se a grama do vizinho é dividida pra uma, duas ou cinquenta pessoas, você continua tendo nada a ver com isso.
