Eis uma verdade que precisamos urgentemente aceitar: cagar regra na vida alheia não resolve nada. Mesmo que as suas convicções sejam coerentes, mesmo que você tenha certeza absoluta de que sabe exatamente o que fazer, as questões do outro estão além da nossa compreensão.
Pensei nisso outro dia, quando a minha mãe me disse, emocionada, que aprendia muito comigo.
Eu jamais me atrevi a dizer a ela o que fazer com a própria vida. Eu apenas fiz com a minha vida o que achei que deveria fazer, e este foi o melhor conselho que eu poderia oferecer para a mulher que sempre me oferece os melhores conselhos do mundo.
“Não adianta estar em um relacionamento que aprisiona a gente. Eu não sabia, mas estou aprendendo com você.” Essa frase poderia ser minha, mas foi dela, da mulher que me ensinou quase todas as coisas que eu sei e que me observou, atenta e silenciosa, enquanto eu alçava meus vôos.
A despeito da preocupação materna pelos perigos a que se expõe uma alma livre, ela quis libertar-se também, e é esta a prova mais linda de que você não pode contagiar o outro com palavras, mas com comportamentos.
A liberdade não pode ser dita sem antes ser vivida. O discurso libertário é bonito, mas só um comportamento libertário é capaz de tocar o outro.
“Eu me agarro muito à maneira com que você encarou o fim do seu relacionamento”, me disse outra amiga – além desta que mencionei, que é ainda a minha melhor amiga – que acabava de ver o próprio relacionamento desabar.
Logo eu, que nunca dividi minhas angústias tão facilmente, que tão poucas vezes chorei pitangas em ombros amigos, que simplesmente vivi como pude e jamais imaginei estar ajudando alguém- porque, antes disso, estava ocupada ajudando a mim mesma (o que pode parecer egoísta, mas é só uma questão de sobrevivência).
Eu, que nunca me atreveria a pensar que o simples ato de viver é objeto de observação alheia. Mas, acredite: é. O que fazemos é mais importante do que o que dizemos, porque só o discurso empírico carrega aquelas lições submetidas à realidade, que transcendem as palavras vazias e penetram a alma do outro.
Enquanto você toma as suas decisões, há alguém atento, querendo finalmente guiar as próprias decisões pelas lentes da experiência do outro – independente do que este outro fale ou aconselhe.
Nós não podemos dar lições. Nós somos a própria lição.