• Homens sensíveis: manda mais que tá pouco
  • Homens sensíveis: manda mais que tá pouco


    A sensibilidade fajuta – aquela resumida em flores/eu te amo/estou com saudades – não serve como outra coisa além de anti-atrativo. E o pior é que está em franca ascensão: pseudopríncipes que abrem a porta do carro, falam de amor como quem declama um poema piegas e aprendem Paralamas no violão só pra impressionar.

    São eles, que enviam uns corações no Whatsapp pela manhã, que postam uma foto com a mulher amada, um filtro vintage e uma legenda indie e chamam isso de sensibilidade.

     Parafraseando Vinícius (um homem verdadeiramente sensível, transbordantemente sensível, diga-se de passagem): Me desculpem os pseudo-sensíveis, mas a sensibilidade genuína é fundamental.
    Por isso, me dêem licença, vanguardistas das flores na barba: esse texto é para os homens sensíveis, os que abraçam suas mães mesmo quando elas estão num dia ruim (e particularmente intragáveis), que se emocionam com os primeiros passos de seus filhos, que choram na frente de suas mulheres, que falam de seus sentimentos e que seguem seus sonhos.
    Os homens sensíveis não precisam anunciar-se – aliás, qualquer coisa que seja realmente verdadeira não precisa – porque, para começar, seus sentimentos lhes transbordam pelos olhos. Os homens sensíveis não disfarçam, eles se rasgam de amor.
    Não interessa se a mulher amada vai achá-lo ridículo, tampouco se os amigos rirão, isso não lhe ocorre, de jeito nenhum: eles estão interessados em amar e eles sabem que o amor é brega e que não há remédio. Eles não procuram remediar.
    Os homens sensíveis são exímios leitores, apreciadores de boa música, vão ao cinema, emocionam-se no teatro, matriculam-se num curso de trompete no verão. A arte, seja qual for, lhes toca até o fundo da alma.
    Eles não economizam nas palavras, são verborrágicos, em geral, mas só depois que estão seguros. Antes disso, se guardam para si mesmos, reconhecem o ambiente, conferem se há espaço suficiente para transbordar – porque se não for para transbordar eles nem saem de casa. Mergulham fundo ou nem molham os pés.
    Homens sensíveis se interessam por política, estão engajados em causas sociais, nunca concentrados no próprio umbigo, porque pessoas sensíveis enxergam o outro.  Eles se movem, querem mudar o mundo – e mudam, eventualmente – querem ao menos tocar um ou outro coração, porque tocar corações também é enxergar o outro.
    Eles vivem, verdadeiramente. Não apenas acordam, trabalham e pagam prestações, os homens sensíveis vivem – e esta é a grande prova dos nove: eles captam insigths cotidianos (trivialidades que, na verdade, são o que fazem a vida valer a pena), lembram-se de detalhes aparentemente sem importância (mesmo que não tenham uma boa memória, alguns detalhes lhes tocam e os homens sensíveis jamais esquecem de algo que lhes toca), têm um caso de amor com determinados lugares, determinados filmes, determinadas músicas, determinadas pessoas.
    Eles têm um caso de amor com a vida.
    ass-nathalie

     


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