• O virtual é legal,   mas cê já provou o real?
  • O virtual é legal,


    mas cê já provou o real?


    Outro dia, aqui mesmo no Casal Sem Vergonha, eu conheci o Lick, um aplicativo criado para gente que deseja treinar a arte milenar de lamber pepecas. E… Nada contra, juro! Cada um faz o que quer com a língua que tem, não é mesmo? Inclusive, se quiser aproveitar o modismo do momento para dar lambidelas em pokébolas, vá em frente, lambuze a tela toda. O problema, a meu ver, é achar que essas “soluções” complementares – e virtuais – que a modernidade vem criando podem substituir o valor da experiência real, aquela que só podemos adquirir com muito pentelho que não desgruda da língua e gostinho de xoxota na boca – no caso do sexo oral, claro, aproveitando que o usei como pontapé inicial para o tema que desejo abordar neste texto-desabafo.

    A primeira vez que ouvi falar do Tinder, fiquei com o pé atrás. Os dois pés, aliás. “Isso é coisa de babaca”, afirmei ao meu amigo que, todo empolgado, falou do aplicativo de encontros como se tivesse acabado de descobrir uma mina de bocetinhas. Alguns dias depois, porém, após ler mais sobre o assunto e baixar o bendito, entendi a onda do negócio; e precisei assumir meu erro de julgamento: “Esse tal de Tinder realmente ajuda, irmão, não posso negar. Ele facilita o encontro de gente com objetivos similares”. Porém – sempre há um porém -, vejo que algumas pessoas têm parado na etapa que depende de Wi-Fi e, estranhamente, parecem se satisfazer com a “masturbação” virtual – o couvert da coisa. Elas conhecem gente aparentemente (não dá para ter certeza só por foto e xavequinho, né?) legal, no entanto, nunca chegam ao encontro físico – o tira-teima -, arrumam mil desculpas para deixar a coisa morrer no quase. “Acho que não daríamos certo, sabe? Até estávamos tentando marcar um barzinho e coisa e tal, mas ele começou a falar muito da mãe, que parece mimá-lo pra c*****o, aí eu peguei bode”, dizem. E sabe por que fazem isso? Porque é mais seguro parar na ilusão, nunca testar o universo real. É mais seguro não ultrapassar a barreira do platônico. Assim como é mais seguro (para o ego, principalmente, pois notar que ela está gemendo de mentirinha pode soar como um doloroso atestado de inutilidade) lamber vaginas pixealizadas em vez de lamber vaginas de verdade. É mais seguro, não dá para negar, mas…

    Sabe o que eu acho? De coração? Acho que muita gente, graças às possibilidades criadas pela tecnologia e por medo dos riscos inerentes à experiência real, está tentando se alimentar apenas de ilusões. Você entende meu ponto, não entende? O sexo virtual, por exemplo (que nada mais é do que uma punheta/siririca nutrida por nudes e outros paranauês que ficam melhor no iPhone) tem bastado para muita gente. Se sou contra o sexo virtual? Claro que não! Nem sempre estamos a menos de cem quilômetros daqueles que nos dão tesão, certo? Sem contar o preço da gasolina e… Porém, só trepar pela telinha? Imaginar a boca no pau sem sentir o pau envolvido pela boca? Nunca ultrapassar o terreno da imaginação? Não, não vale a pena.

    Saindo um pouco do universo sexual, vejo que o mesmo tipo de contentamento com o placebo – aquilo que dá a falsa ilusão de fazer efeito de verdade – acontece nos diálogos que, muitas vezes – na maioria, talvez -, não tem som: só texto e carinhas amarelas sorridentes. WhatsApp é da hora, opa se é, mas ligar de vez em quando é muito louco, sérião. Coisa que está ficando cada vez mais rara, mesmo a namorados que só se veem de final de semana. E não venha me dizer que no Whats tem a opção de mandar áudio, que é a mesma coisa e blábláblá, ok? Porque não é, não se iluda. Na voz se nota a gripe iminente, a tristeza momentânea, a saudade latejante e um bocado de sentimentos que podem, facilmente, ser mascarados por um emoticon. E, se pensarmos bem, é mais fácil gerenciarmos relações nas quais os sentimentos não vêm sempre à tona. É mais fácil porque, se notar que ela está triste, precisará tomar uma atitude para reverter o quadro, certo? E você não quer trabalho, quer apenas fazer o contato religioso de cada dia, que parece uma cópia do contato de ontem (veja seu histórico de mensagens se duvida de mim), comer algo e assistir a mais um episódio de Stranger Things. Estou errado? Não, não estou. Porque se relacionar à moda antiga dá mais trampo, não há como negar. Porém, também é mais emocionante, juro pro cê. Se relacionar à moda antiga, de um jeito que arranha a pele, dá muito mais tesão.

    E não confunda “se relacionar à moda antiga” com “transar só depois de vários encontros” e “pedir a mão da moça ao pai dela”. Isso, a meu ver, é tradição besta, burocracia dispensável. Mas deixarei isso para outro texto. Pois aqui, neste desabafo, só quero deixar uma opinião para reflexão: se relacionar (isso envolve sexo, óbvio) com robôs nunca será tão gostoso quanto se relacionar com humanos. Nunca! Mesmo se, em Tóquio, criarem robôs que rebolam sempre no remelexo perfeito e que chupam sem o risco de raspar os dentes na piroca; mesmo se criarem robôs que não desistem do sexo anal no meio; mesmo, mesmo. Por isso, tome muito cuidado para não se tornar um robô. Pois é isso que acontece quando começa a achar que precisa de energia elétrica até mesmo para fazer sexo. Ser robô dói menos, eu sei. Mas, se quer um conselho: fuja da felicidade programada, ela não chega aos pés daquela que acontece independe da energia elétrica, em qualquer cantinho inundado de tesão.

    Você aí e ela lá, bem longe, e mesmo assim dá para esquentar as coisas, eu sei. Porém, se quer fogo de verdade, aquele que por muito tempo permanecerá aceso na memória, experimente o atrito entre os corpos. É assim que rola desde o Paleolítico. E certas gostosuras são insubstituíveis, acredite.

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