• O dia em que o Rodrigo Hilbert murchou  minha autoestima
  • O dia em que o Rodrigo Hilbert murchou


    minha autoestima


    Eu estava me sentindo o máximo por ter conseguido trocar a fechadura da porta e graças ao arroz soltinho que tinha feito hora antes. Estava… Até que o Rodrigo Hilbert, fingindo querer apenas informar e entreter, apareceu para me dar uma surra de picanha. Ou bife ancho? Tanto faz! Só sei que doeu.

    Eu já havia visto outros programas do Loirão antes, sabia dos riscos, porém, por se tratar de uma nova temporada, eu decidi arriscar. Fiz merda. Sofri um golpe duro no ego. O cara é uma espécie de Jamie Oliver com notas de MacGyver, saca? Só que muito mais simpático e bonito do que os dois juntos, o que o torna um vale-insegurança para homens que não nasceram com superpoderes – a esmagadora maioria.

    No episódio que vi, provavelmente para humilhar cidadãos de bem como eu – que têm pavor de choque e vivem a contratar “maridos de aluguel”-, o Hilbert deu uma aula de churrasco: com meio pão ;.velho e um pouco de álcool, acendeu o fogo de primeira, sem suar ou sofrer, bem diferente de mim (só consigo fazer o carvão pegar fogo se abaná-lo com uma tampa de cooler até ficar com os braços esgotados e a camiseta empapada de suor). E para fazer com que eu me sentisse ainda mais rebaixado, o cocô molenga de um macho zeta, ele ainda teve a pachorra de construir a própria churrasqueira, você acredita? Uma churrasqueira que também funciona como fogão, depois descobri. E não é que o troço ficou perfeito, melhor até do que a churrasqueira velha de guerra do meu tio Fernando. O Rodrigão construiu uma churrasqueira, mano! Cê tem noção? E eu aqui lendo instruções para montar brinquedinhos de Kinder Ovo.

    Não é à toa que a Fernanda Lima está com ele, né? E não me espantaria em nada se ela dissesse algo como: “Além de cozinhar e construir churrasqueiras, a piroca dele vibra em três velocidades e ejacula Nutella quando estou de TPM”. Ou ainda: “Um dos programas preferidos dele é me aguardar experimentar sapatos. Ele adora, juro! E nunca diz ‘esse ficou ótimo’ só para sairmos logo da loja, porque está com pressa para ir à praça de alimentação. Pelo contrário: mesmo depois de eu ter experimentado trinta e dois sapatos, se percebe que não gostei muito de nenhum, ele ainda me sugere: ‘por que você não prova mais alguns, amor’?”. Só me faltava essa!

    Se bem que uma amiga, depois semanas achando que tinha conhecido o homem perfeito, tomou um senhor banho de água fria. Ou melhor: do jeito mais entediante descobriu que o cara estava longe de ser quem ela tinha imaginado. “Ele não tem pegada alguma”, ela me disse, decepcionada pela forma superficial e sucinta como ele a havia lambido dias antes. E ela não foi a única a descobrir que ocrush, na vida real, estava muito longe das expectativas alimentadas por fotos de Facebook e repertório hollywoodiano: um parceiro trocou a namorada de anos por uma moça que, segundo ele, “parecia ser top em todos os sentidos”. Mandou mal. Porque quando percebeu a cagada feita, e com quem tinha metido de verdade, não havia mais tempo: a namorada já estava com outro – e mesmo que ainda não estivesse, eu duvido que o perdoaria.

    É, pensando bem – e deixando um pouco de lado o humor exagerado que considero um dos meus pontos fortes -, talvez o Hilbert não seja tudo isso. E mesmo que ele tenha um pau tamanho Zulu e saiba dançar tango como o Al Pacino – além, óbvio, do que já citei -, não faz sentido me deixar abater pelas qualidades dele. Eu também tenho as minhas, afinal de contas. Todos têm alguma coisa encantadora – às vezes, hibernando, escondida ou ainda não descoberta, mas têm.

    A verdade é: se realmente considerasse a capacidade de construir churrasqueiras um diferencial importante, eu provavelmente não estaria aqui, escrevendo este texto. Onde estaria? Lendo “Como fazer churrasqueiras for dummies”, procurando tutoriais no YouTube, revendo o episódio etc. Pois, em meu ponto de vista, é isso que devemos fazer quando almejamos muito uma habilidade que não temos, saca? Lamentações não levam a lugar algum, não é mesmo? Mas, no momento, acho mais importante assumir que não levo jeito para algumas tarefas e focar em uma coisa para a qual acredito ter certa aptidão, entende? Por isso estou aqui, neste texto, repito; a fim de tentar fazer com que você, leitor, pare de querer ser bom em tudo e, finalmente, comece a investir suas limitadas energias (ninguém é Duracell) naquilo em que realmente se destaca. Mais do que isso: cá estou, também, para fazê-lo refletir no perigo da idealização e das “verdades” que construímos sem muita base, que, em muitos casos, fazem-nos invejar a grama do vizinho e considerar a nossa um lixo – o que é péssimo para autoestima.

    Se tivesse assistido ao programa do Hilbert anos atrás, quando ainda estava inundado de inseguranças e não me achava bom em nada, teria realmente ficado para baixo, mergulhado num pote de sorvete. No instante em que vi o programa, no entanto, imediatamente pensei: isso dá pano para um texto engraçado e com potencial para fazer com meus leitores repensem nas tantas vezes em que sofrem por não ser idênticos ao Rodrigo Hilbert – e também à Fernanda Lima, né, mocinhas? – sem notar que já são habilidosos e lindões em outros aspectos.

    Por fim, aproveito para afirmar que, por trás das câmeras – e fora de textos cheios de personagens –, nem tudo são flores. Na vida real não há edição, maquiador pronto para esconder imperfeições ou chance para uma nova tomada. Muito menos botões que apagam frases inteiras de uma só vez. Portanto, muito cuidado para não deixar de enxergar as qualidades reais do seu namorado porque vive a usar como parâmetro a parte pequena – e talvez fictícia – que conhece de Hilberts e Coiros.

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