Cresci ouvindo conselhos como: “Não ligue no dia seguinte”, “Evite demonstrar que você está totalmente na dela” e “Finja que não se importa muito”. Por muitas e muitas vezes tentaram me fazer acreditar que não há relacionamento – curto ou longo – sem joguinhos, dissimulação e um bocado de blefe. Depois de um tempo e certa experiência, porém, reparei num negócio: nas relações que mais admiro, aquelas onde um sentimento verdadeiro e bonito pode ser sentido a quilômetros de distância, não há atuação, psicologia reversa barata e vontades sendo mascaradas porque algum imbecil disse para nunca irmos com muita sede ao pote. Saca?
Hoje em dia, para dar corda à desesperança de quem não vê o coração alheio como brinquedo, não é incomum esbarrar com gente que ama e desama na velocidade que as bananas apodrecem no verão, eternos molecotes mimados acostumados a enxergar a vida como um tabuleiro no qual as peças são descartáveis e onde vencer – custe o que custar, vale ressaltar! – é sempre mais importante do que ceder, propagar paz ou estabelecer uma relação de respeito e honestidade. Jogam em tempo integral mesmo quando algo dentro deles pede para que parem, pois, afinal de contas, só lhes importa ganhar… a moça mais bonita da festa, a DR na estão descobertos de razão, o troféu de maior larápio – sim, até isso vem sendo visto como mérito -, o diploma de “desvirginador” profissional etc.
Uma pena, de verdade. E também uma grande irresponsabilidade. Porque na vida, diferente do que rola em barracas de festa junina, são sentimentos humanos e complexos que estão em jogo, não bichinhos de pelúcia, bolas de plástico e caixinhas de biribinhas. E mesmo em relações imediatistas, lambuzadas de uma noite e nada mais, há muito mais brincadeira e menos seriedade do que deveria, a meu ver; porque não querer nada sério e duradouro com uma pessoa não nos dá o direito de tratá-la como se ela não passasse de um passatempo descartável, sem qualquer valor.
Quando foi que paramos de enxergar as pessoas como pessoas, você pode me dizer? Porque tenho a impressão de que estamos tratando nossos semelhantes como cartas de um baralho, peças de dominó, pokémons à espera da nossa vontade de capturá-los; nós os usamos até perderem a graça ou outra brincadeira se parecer mais gostosa, então, demonstrando total falta de consideração, sumimos sem sequer dizer “tchau”. Nem uma breve mensagem de texto cheia de abreviações. Nada! Apenas evaporamos, partimos para a próxima etapa do circuito, pulamos em direção ao próximo quebra-galho. E se ela sofrer devido ao nosso sumiço abrupto? E se ela estivesse esperando de nós o mínimo de caráter? Essas são perguntas que não ousamos fazer, e sabe por quê? Porque a emoção da nova jagatina, aquela que não demorará a ser trocada por uma mais nova ainda, não nos deixará perceber que dentro daquilo que tratamos como bonecas de pano há um coração, frágil e complexo como só o coração humano sabe ser. Um coração que venho tentando entender desde me comprometi a escrever sobre aquilo que, apesar de ninguém poder tocar, toca-nos de jeito, agarra-nos pela alma.
Coração não é brinquedo, lembre-se disso antes de entrar em qualquer relação – mesmo aquelas breves e “safadônicas” nas quais o melhor que pode acontecer é sentir o coração na boca enquanto você, apesar de já ter parado de fumar faz tempo, deseja num cigarro e concluí que, neste mundo, cama alguma se compara à sua.