Sabe aquele momento em que você olha pra trás e pensa “nossa, aqueles é que foram os bons tempos” e aí você se sente como se tivesse noventa anos e muita sabedoria para passar adiante, mesmo que você tenha só vinte e poucos?
Os “bons tempos” podem ser a época da faculdade, talvez aquele início, seu primeiro ano como calouro, quando sua única preocupação era descobrir onde você conseguiria almoçar por menos de cinco reais e se era fisicamente possível ir a três festas em um único sábado. Mas a saudade por ser também daquele ano que você estudou fora. Quanta coisa nova você aprendeu! Quanto perrengue você passou longe dos seus pais pela primeira vez. E como foi incrível! Mas talvez você vá mais longe e pense que os bons tempos foram a adolescência. Como você e sua gangue de amigos eram irresponsáveis e despreocupados – e como isso era bom! Você olha as fotos e não consegue acreditar nas roupas e cortes de cabelo que todo mundo está usando. Parecia que sua adolescência era um daqueles seriados dos anos 90 com risadas de plateia no fundo. Mas pode ser também sua infância seu momento mais saudoso, ou seu primeiro ano depois de formada, quando você estava cheio de sonhos e expectativas de como sua vida seria.
Não importa qual o “bom tempo” você escolheu pra relembrar e suspirar. Uma coisa é certa para você: qualquer um é melhor que o presente.
Hoje você vive tenso, sem saber se as contas no final do mês não serão maiores que o (pouco) dinheiro que você tem na sua conta. Você vive angustiado porque sente que está em um trabalho que não gosta e tem vontade de chorar cada vez que rola pra baixo a timeline da vida fantástica que os outros estão vivendo. Você sente falta dos amigos que sumiram, uns porque são do tipo namora-some, outros porque têm maiores responsabilidades como filhos pequenos. O tempo passa voando e pela primeira vez a chegada de mais um aniversário passa a ser motivo de tristeza e não de alegria.
Calma. Escuta o que eu tenho pra te falar: os “bons tempos” foram todos os que passaram e são o agora também.
Lembra quando você era criança e, sim, você era muito feliz, mas também vivia querendo ser “gente grande”? Na adolescência quantas vezes você não se frustrou quando seus pais não deixaram você ir naquela festa ou naquela viagem que todo mundo foi? E os primeiros amores fracassados? Lembra como você ficava arrasado cada vez que alguém quebrava seu coração? E o primeiro ano de faculdade foi legal sim, mas lembra como foi difícil ver seus amigos da escola se afastando, agora que cada um fazia um curso de diferente? E aquele ano que você passou fora, lembra que o primeiro mês você chorava toda noite até a hora de dormir de tanta saudade do Brasil? E o seu primeiro ano formado – se eu bem me lembro – você vivia tenso e reclamando que nunca iria conseguir um emprego, que nunca teria dinheiro e ia morar com seus pais para sempre.
Mas porque eu estou aqui destruindo suas melhores lembranças? Pra te mostrar que os bons tempos não são feitos só de coisas boas. Todo bom tempo é também tempo de superar dificuldades, de transformações, de frustrações e de lágrimas. Porque a vida é assim. Mas depois que passa, os momentos de alegria, de risada, de amizade e de amor superam as memórias ruins. Então pode acreditar quando eu te digo: os bons tempos são o agora.
Talvez você não consiga enxergar ainda, mas daqui há muitos anos você vai se lembrar com carinho e saudade das coisas boas dos dias de hoje e não das que te causavam angústia. Você nem vai lembrar daquela viagem que seu colega fez ao redor do mundo e que você ficou morrendo de inveja, mas você vai recordar todos os detalhes da festa surpresa que seus amigos fizeram pra você no seu aniversário. Aquele dia terrível que seu chefe brigou com você simplesmente não vai mais existir na sua memória porque ela vai estar cheia das melhores lembranças de quando você e sua namorada foram morar juntos.
Então saiba que coisas ruins ou que te deixam pra baixo vão estar por aí de vez em quando e isso é inevitável. Mas se concentre de verdade nas coisas boas que a vida te traz, porque são elas que farão você suspirar daqui há dez anos e falar “poxa, aqueles que foram os bons tempos”.