Não sei se houve um flashmob das pessoas que sigo nas redes sociais ou se é uma nova tendência universal, mas o que acontece é que tenho visto cada vez mais gente usando a singela e romântica frase em declarações públicas. “Você é a razão do meu sorriso”, eis a bendita. Inofensiva, apaixonada e tudo mais, certo? Er, sei não. Por algum motivo estranho, toda santa vez em que vejo o trecho, eu me sinto incomodado.
Poderia jurar que é recalque por estar solteiro vendo gente feliz discursando sobre o amor nos tempos de likes, mas realmente me sinto um pouco estranho toda vez em que vejo algo do tipo. Tá, mas o que há de errado nisso? Você já parou pra pensar no discurso que essas frases carregam? “Você é a minha vida”, “Só sou feliz por sua causa”, “A razão do meu sorriso é você” e por aí vai. Todas elas têm uma coisa em comum: parece que, se não for o outro, o tal do ser humano é completamente infeliz sozinho.
Mamãe já bem dizia que a única companhia eterna que você vai ter na vida é a sua. Então, quando vejo essa galera depositando todos os motivos pra ser feliz em uma única pessoa, eu só consigo pensar: e se acabar? E se o outro for embora? Acaba a felicidade? Acaba a vida? O mundo rompe? Sabemos que não, mas tem gente que leva ao pé da letra essa coisa de achar alguém pra ser feliz, né? Pode ser culpa dos filmes, vai saber.
Dá uma vontade de ser o Grintch do amor e dizer: ah, vai ser feliz viajando, comendo um brownie de chocolate, vendo pássaros na Europa, pegando praias na Ásia, rezando em templos budistas, esquiando na neve, fazendo rapel, lendo um livro novo, sei lá, tem tanta coisa que também pode fazer a gente feliz além do amor. E mais: a minha visão de felicidade parte do pressuposto da divisão. Se você não é feliz sozinho, que felicidade tu tem pra compartilhar com quem ama? Somos todos seres que dividem um pedacinho nosso com o mundo.
Não tem problema nenhum em ter alguém que te faça mais feliz. Mas se não pra potencializar o que você já tem, esse amor todo aí que você sente é dependência. Dependência de quem te faça bem, não de quem te faça melhor. Dependência de quem te dê felicidade, não de quem te ajude a ser mais do que você já é.