Em tempos da volta do BBB, aquela coisa de dar uma espiadinha volta à tona – como se algum dia ela não estivesse em voga. A gente espia tudo hoje em dia. Espia as redes sociais do crush, espia o papo do whatsapp do cara do ônibus, espia o jornal que a senhorinha lê no metrô, espia a conversa do casal no restaurante, espia tudo. Se você nunca assistiu ao excelente Janela Indiscreta, filme clássico do Hitchcock, talvez você não esteja familiarizado com o voyeurismo. Se você já assistiu ou já praticou, por alguma razão, aquela espiadinha indiscreta em pessoas que não sabiam que estavam sendo observadas, você entende bem sobre o que vou falar.
Voyeurismo é uma prática que tem como pressuposto básico o fato de sentir prazer ao observar pessoas (que podem ou não saber que estão sendo observadas). Esse prazer, se a gente for analisar socialmente, é uma espécie de prazer oculto ou vergonhoso: todo mundo tem em algum nível, mas poucos são os que admitem o deleite com a vida alheia. Por quê? Porque ninguém gosta de ser taxado de stalker maluco que fica vigiando alguém (em alguns níveis, realmente passa de uma simples predisposição prazeroso pra algum nível de psicopatia, mas esperamos saber distinguir isso quando a coisa ficar séria demais).
E o que acontece quando a gente fala desse prazer no sexo? Você nunca teve aquela fantasia de assistir seu namorado ou sua namorada, marido ou esposa transando com outra pessoa? Nunca quis saber das aventuras sexuais daquele seu PA ou peguete com detalhes? Nunca se imaginou assistindo a um casal transando ao vivo enquanto você se masturba? Bom, basicamente é esse o princípio da coisa toda.
Eu, por exemplo, morro de tesão em observar. Beijos apaixonados nas baladas, mãos cheias dos casais se atracando por aí, os vizinhos que transam e fazem um barulho enorme enquanto eu leio um livro, o universo ao redor que não necessariamente precisa tocar seu corpo pra dar algum prazer. Morria de vontade de ver meu ex com outro (ou outra). Imaginava como ele seria dominado, como se sentiria, como se portaria, como aproveitaria o prazer de outro corpo que não era o meu, como iria me provocar e tudo mais. Mas não é todo mundo que consegue enxergar essa possibilidade.
E como é que a gente acessa nosso potencial criativo a partir do voyeurismo? Bom, primeiro a gente precisa quebrar o tabu que é falar de fetiches dentro de relacionamentos. Rola sempre um medo de propor ao outro algo que ele/ela ache ofensivo e que magoe a relação. Nãohá nada de errado em falar sobre o que nos dá tesão, desde que só seja feito o que for de comum acordo entre os dois. Segundo, fantasias podem ser complementares. Você pode ser um baita exibicionista e namorar alguém com inclinações voyeurísticas. Você pode ter um relacionamento com alguém que também curta assistir a shows ao vivo de sexo e usar isso pra apimentar a relação. Você pode usar o voyeurismo como uma ferramenta para botar fogo nas suas transas rotineiras a dois, desde que consiga entender que os ciúmes devem ser usados como catalisador do tesão.
Existem várias possibilidades no universo voyeur da vida real. E adivinha o melhor? Você nem precisa pagar o Pay Per View pra isso. É uma delícia e é de graça.