“Você não é empoderada? Então chupa o meu pau!”
Não fui eu quem ouvi isso – tanto que a integridade física de quem proferiu tal frase permanece incólume. Uma amiga me contou a anedota num bar feio, curiosamente depois de nossa primeira reunião para a criação de um coletivo feminista na cidade.
O homem em questão, ela contou, tentava convencê-la de que ser livre consiste necessariamente em ‘ser daquelas mulheres que só dizem sim’, chegando mesmo a agir como se ela não tivesse condições de construir e avaliar a própria liberdade sexual.
A amiga, felizmente, sabia que se determinada liberdade te obriga a algo, não é liberdade.
O homem foi embora sem boquete, com a malandragem no bolso. Rimos muito no final da história – riríamos muito se a contássemos outras duzentas vezes.
Ser sexualmente livre, ela sabia – sabemos – vale tanto pro sim, quanto pro não – caso contrário, não é liberdade, é apenas de uma espécie mais sofisticada de prisão.
Se sua liberdade sexual te obriga a construir uma persona indestrutível, femme fatalle liberal e sem neuras, que não observa os próprios limites em nome do “faço porque quero, mas sobretudo porque posso”, talvez ela não te liberte tanto assim.
A gente passa a vida tendo que desaprender as coisas pelas quais nos ensinaram a nos desculparmos, dizem, e é complexo, para dizer o mínimo, reconhecer e dizer com clareza o que queremos e o que não queremos fazer com nossos corpos, quando queremos, como queremos, o quanto queremos: não fomos ensinadas a querer. A passividade nos foi empurrada goela abaixo.
São anos desse curso intensivo para belas, recatadas e do lar chamado sociedade patriarcal – então, tomar posse do próprio corpo é um processo que exige paciência: primeiro você o reconhece como seu, e depois compreende, pouco a pouco, que ele não existe pra provar absolutamente nada a ninguém: existe por você e pra você.
Mulher livre de verdade também diz não. Fica frígida de vez em quando. Goza por trinta segundos num dia e, no outro, aceita que simplesmente não conseguiu – porque sabe que orgasmo não é uma corrida.
Relaxa: dá pra se negar a chupar um pau quando você não estiver a fim e permanecer com a carteirinha de mulher livre intacta.