• Essa mania de só gostar  de quem mora longe
  • Essa mania de só gostar


    de quem mora longe


    Que atire a primeira pedra quem nunca pensou “droga, por que as pessoas mais interessantes que eu conheço moram longe?”. Parece que existe um buraco negro que afasta a gente das pessoas interessantes, das melhores aventuras, dos amores mais loucos justamente porque eles se encontram a quilômetros de distância. Seria normal e não viraria uma lenda urbana se não acontecesse tantas vezes, né? Mas não é bem assim: não sei você, mas é bem comum que eu me apaixone por pessoas de outras cidades, estados e países.

    Acredito muito que nós idealizamos as pessoas que moram longe. Não temos ideia de como é estar com elas todos os dias, e acabamos tendo uma prova apenas da parte legal da personalidade que nos atrai. Tem muita coisa a ser considerada: o deslocamento de contexto (porque a pessoa sai da rotina dela e entra na sua), o pouco tempo que se tem junto, o encanto pelo novo e a possibilidade de trocas mais amplas de experiências e por aí vai.

    Esse encantamento aumenta ainda mais com a internet: de alguma maneira, nós podemos acompanhar a vida editada de quem tá ali do outro lado. Fotos bonitas, as ideologias compartilhadas, o ótimo senso de humor e o romantismo da troca de mensagens, bom dia e boa noite que acaba acontecendo.

    Acho que também tem um pouco do lance de que o convívio diário é sacrificado em prol de algumas coisas. Aquelas briguinhas mais bobas, a irritação de estar quase sempre junto quando não tá a fim, os problemas do outro e a parte ruim de todo relacionamento são deixadas de lado porque você sabe que vai ter pouco tempo com a pessoa. Então, quando tá junto pra fazer coisas legais, trocar carinhos, transar e aproveitar o tempo que tem do lado de quem gosta.

    Pensar nessas coisas me faz ver essa coisa mística de “ gosto de quem mora longe” de outra maneira. No fim das contas, penso que é uma grande idealização nossa da pessoa distante misturado com uma coisinha que é muito mais comum do que imaginamos: a autosabotagem, que insiste em dizer pra nós mesmos que seremos felizes com coisas cada vez menos tangíveis e mais impossíveis.

     daniel


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