Que atire a primeira pedra quem nunca pensou “droga, por que as pessoas mais interessantes que eu conheço moram longe?”. Parece que existe um buraco negro que afasta a gente das pessoas interessantes, das melhores aventuras, dos amores mais loucos justamente porque eles se encontram a quilômetros de distância. Seria normal e não viraria uma lenda urbana se não acontecesse tantas vezes, né? Mas não é bem assim: não sei você, mas é bem comum que eu me apaixone por pessoas de outras cidades, estados e países.
Acredito muito que nós idealizamos as pessoas que moram longe. Não temos ideia de como é estar com elas todos os dias, e acabamos tendo uma prova apenas da parte legal da personalidade que nos atrai. Tem muita coisa a ser considerada: o deslocamento de contexto (porque a pessoa sai da rotina dela e entra na sua), o pouco tempo que se tem junto, o encanto pelo novo e a possibilidade de trocas mais amplas de experiências e por aí vai.
Esse encantamento aumenta ainda mais com a internet: de alguma maneira, nós podemos acompanhar a vida editada de quem tá ali do outro lado. Fotos bonitas, as ideologias compartilhadas, o ótimo senso de humor e o romantismo da troca de mensagens, bom dia e boa noite que acaba acontecendo.
Acho que também tem um pouco do lance de que o convívio diário é sacrificado em prol de algumas coisas. Aquelas briguinhas mais bobas, a irritação de estar quase sempre junto quando não tá a fim, os problemas do outro e a parte ruim de todo relacionamento são deixadas de lado porque você sabe que vai ter pouco tempo com a pessoa. Então, quando tá junto pra fazer coisas legais, trocar carinhos, transar e aproveitar o tempo que tem do lado de quem gosta.
Pensar nessas coisas me faz ver essa coisa mística de “só gosto de quem mora longe” de outra maneira. No fim das contas, penso que é uma grande idealização nossa da pessoa distante misturado com uma coisinha que é muito mais comum do que imaginamos: a autosabotagem, que insiste em dizer pra nós mesmos que só seremos felizes com coisas cada vez menos tangíveis e mais impossíveis.