Mas deixa ela ir mesmo assim, deixa ela bater o porta malas do carro, com a mala de roupas mal arrumada dentro. Deixa ela pisar fundo no acelerador e pegar a rodovia com os olhos chorosos, sem fazer um movimento para que ela fique. Mesmo sabendo que, lá no canto menos orgulhoso da alma, aquele em que raramente sua mente faz visita, ela vai te fazer bastante falta.
Vocês passaram por muita coisa juntos e tem histórias de todo tipo para contar. Vocês dividiram quartos de hotel, pizza requentada, feriado de carnaval, gargalhadas e lágrimas. Ela esteve do seu lado quando você desistiu da faculdade que chateava, do emprego que enlouquecia e da baderna de adolescente. Ela segurou tua mão para cruzar saguões de aeroporto e hospitais. Nunca te deixou.
Mas você não retribuiu. Estava preocupado demais com o que queria para si, com o que faria no final de semana e com a vontade de ter mais “espaço”. Mesmo sabendo que o vazio dela na sua vida, seria um espaço muito maior para ter e administrar, do que pretendia.
Não conseguiu abrir mão das vontades bobas, das necessidades medíocres e da imaturidade de sempre. Fez birra para manter os velhos hábitos, omitiu verdades que quis esconder e ignorou o esforço dela em recuperar o relacionamento de vocês. A deixou na mão, virando-se sozinha com os problemas de ambos.
Ela fez o que pode, ultrapassou os próprios limites, deu segundas chances infinitas e colocou o ego de lado, enquanto você cruzava os braços e a machucava, sem pena. Ela abriu mão de si mesma, enquanto você não conseguia ceder nem um pouco. Ela te amou, com todos os defeitos e qualidades. Enquanto você apenas amava o que ela fazia por você. Foi narcisista e quando a olhava, apenas via o que ela refletia de si mesmo. Não a enxergou. E a perdeu.
Vai doer a ausência dela. Vai doer naquela cicatriz , vai doer nos ossos e vai doer numa parte do corpo que a gente nem sabe como funciona direito: vai doer no sentimento. Vai doer de saudade. Porque, meu amigo, ela vai te causar muita saudade.
No meio do trabalho, da balada ruim, do almoço com a família e do inverno que congela a ponta do nariz. Você vai continuar olhando para ela e vai continuar vendo-a ir embora, para cada vez mais longe. E em cada esquina nova que ela dobrar, em cada sorriso que ela sorrir e a cada nova conquista que conquistar, você apático vai saber: a culpa foi sua, por ela partir sem passagem de volta.
Ela merece ser feliz, portanto, respeite a privacidade dela, torça por ela, tenha orgulho dela, aprenda com ela e recomece sem ela. Seja melhor na próxima, dedique-se, importe-se e não perca mais ninguém por indiferença. Amadureça e, no futuro, quando encontrar com o amor, ame de verdade.
Deixe ela ir. Já doeu demais nela. Agora vai doer em você.
