• O Que Podemos Aprender  Com a Marcha Das Vadias
  • O Que Podemos Aprender


    Com a Marcha Das Vadias


    Nosso querido colunista Ricardo Coiro participou da Marcha das Vadias –  um protesto contrário ao machismo que teve origem no Canadá e se espalhou pelo mundo e que teve sua segunda versão brasileira nesse sábado na Av. Paulista em São Paulo. Ele nos contou o que pode aprender com essas mulheres:

    Eu Marchei Com as Vadias

    As vadias marcham totalmente à flor da pele, estão seminuas e nem por isso murcham. Elas vestem minúsculos pedaços de pano e logo percebo: essas vadias com certeza têm um plano e estão cobertas apenas com o véu da razão, estando elas nuas, ou não.

    Elas estão por toda parte e hoje vencem enquanto pisam juntas e de salto alto sapateiam sobre as ruas esburacadas da censura decadente e com isso, esmagam milhões de testículos violentos. As vadias trajam total transparência e por trás daqueles tecidos quase invisíveis, vejo muito mais do que mamilos pontiagudos como facas – enxergo uma exigência lógica e proibida de ser rejeitada por qualquer um de nós: elas ordenam respeito e tem que ser agora!

    Elas são chamadas de piranhas, mas são apenas mulheres que tiveram todos os dentes afiados pelo machismo que nasceu somente para amolar. Elas lutam contra uma crença falha e preconceituosa, perpetuada dia após dia, por seres humanos que se julgam machos, superiores, quando na verdade não passam de lixo, agindo sempre como bichos irracionais.

    As vadias, antes de serem vadias, são mulheres e precisam de muito peito para sê-las. As vadias também são nossas mães, nossas amigas, nossas esposas, nossas irmãs e mais do que isso, elas são o grito estridente que clama pelo cumprimento do direito inviolável que todas as mulheres possuem: querem desfilar sozinhas pelas esquinas da vida, vestidas com milimétricos vestidos e nem por isso, serem confundidas com um convite falso para a invasão egoísta, repugnante e eternamente traumática, chamada estupro.

    As vadias não são bonecas infláveis, pois só farão sexo com quem, quando, onde e se assim quiserem. As vadias não são sacos de pancada e só poderão levar tapas se isso realmente der-lhes prazer e se esse tesão for algo consentido e desejado por elas. As vadias não nasceram condenadas a serem donas de casa, ao contrário do que os ignorantes pensam, mas serão as melhores se assim quiserem, pois antes de tudo, elas são donas de uma liberdade que ninguém lhes tira: o direito inquestionável de dizer sim ou não.

    Ainda não sei se vou me casar, mas se um dia uma vadia me encantar e por livre espontânea vontade me disser “sim”, prometerei do alto do altar não roubar-lhe a liberdade e nunca dizer-lhe que o corpo dela me pertence, pois cada curva sempre será só dela e só assim garantirei que para mim não haverá pedágios. Na estrada dela, não fincarei minhas placas, nem vou impor minhas regras. Com essa vadia dormirei tranquilo, com a convicção de que nossos filhos serão educados numa casa que não admitirá preconceito ou desigualdade e, se depender de mim, minhas sementes crescerão num mundo que rirá e cuspirá na lembrança do machismo, como se essa postura demasiadamente burra fosse apenas um desvio de conduta, extremamente ultrapassado.

     


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