E se eu falar que o seu braço sobre o meu ombro naquele café fez toda a diferença? Gosto de iniciativa. Parceria. Eu abro o botão, você o zíper, eu abaixo o jeans, você. A sua ligação no meio da tarde de quarta, sua dedicatória no livro, o chocolate junto com o CD do Radiohead, o seu sms quinta de madrugada, onde leio você elogiando nossa noite anterior e um alerta de futuros reencontros. Esses detalhes me deixam com vontade de.
Você verbaliza, pontua, exclama, apaixona, presenteia (com poesia) e embriaga da forma que gosto. Sou grato a todos os santos por isso. Pego o terço bento que minha tia freira me entregou e mando ver nos agradecimentos. Eu acredito.
Naquela noite, entre nossos amigos em comum eu te olhava com admiração enquanto você articulava sobre leis que aprendeu na aula de direito de terça. Você faz isso direitinho, tem um certo ar arrogante e seguro enquanto fala, existe um certo charme enquanto passa a língua nos lábios e arruma o cabelo. Deve ser de Marte.
E quando eles voltam a conversar entre si, o meu olhar mira o seu e o seu olhar flerta com o meu. E quase podemos nos decifrar. Essa atmosfera tem gosto de mel. Cheiro de baunilha. Cor de tulipa vermelha.
E você ri enquanto imagina o que eu faria se. Aposto 100 dinheiros que você se lembra de todos os detalhes daquela noite da pizza, meio-eu-meio-você, quando você, na frente de todos, cochichou no meu ouvido que eu te levava pro céu quando. Seu pé sob a mesa, procurando a minha coxa para. Cochichamos sobre o dia do fundue, quando você sentiu ciúmes por. E depois disse que eu era de outro planeta por. E depois sentiu medo de. E depois sorriu quando.
Deixo um tanto da minha coragem para enfrentarmos futuros imbróglios – sim, eles surgirão e dessa vez faremos diferente, prometemos um para o outro não fugir no primeiro tropeço e firmamos um acordo de desatar todos os nós. Deixo reservado para você uma dose de humor para quando o seu estiver escasso. Naqueles dias em que as coisas no trabalho não fluem, ou quando aquela dorzinha de cabeça resiste a qualquer café com aspirina.
Não me deixe acordar, o agora é agradável e doce.
Deixo as dúvidas e os medos lá atrás, em um lugar distante, onde não nos alcancem. Deixo em cima da mesa dois convites do Festival de Cinema Francês que começa esse mês na cidade. Você olha, arruma novamente o cabelo, molha os lábios com a língua e me entrega de graça o que eu mais gosto em você: seu sorriso.