• O Que Não Gostar de  Rachar a Conta Quer Dizer Sobre Você
  • O Que Não Gostar de


    Rachar a Conta Quer Dizer Sobre Você


    Você sai com o cara e, na primeira noite, ele não se oferece para pagar a conta. Você fica sem graça? Já decidiu que ele não é um cavalheiro, que não é certo pra você? E na hora de se despedir, quando está rolando aquele clima absurdo e ele te convida para ir para o apartamento dele? Você deixa para o quarto, quinto encontro porque não é qualquer uma, não quer que ele pense que você é material barato? Moça, tome cuidado, você pode ser machista.

    Muito se fala hoje em dia – e cada vez mais em esferas públicas e coletivas – sobre o machismo que ainda se apodera do mundo em pleno século XXI. Muita gente, no entanto, não entende que direitos iguais não querem dizer (apenas) as reivindicações sufragistas ou a implantação de uma lei que endureça a pena em casos de violência contra a mulher. São vitórias muito, muito, muito importantes. Mas elas se traduzem também na nossa esfera pequenininha aqui, esse nosso dia a dia, este nosso universo. E, dentro dele, o mundo dos relacionamentos.

    O preconceito de gênero não prejudica apenas as mulheres, claro que não. Ele faz com que ambos – eu e você – sejamos vistos como robôzinhos pré-fabricados que nasceram para fazer alguma coisa, e não têm escolha nenhuma no processo. Esse tipo de pensamento é a origem das inúmeras noites que você passou em claro lavando roupa porque seu namorado não toca em uma cueca suja (“porque isso é assunto da patroa”) –  e também dos dias que seu chefe negou para que você, homem, passasse com seu filho quando ele nasceu, porque licença nestes casos “é só da mãe” que, afinal, parece ser mais importante que você nesse mundo com leis malucas.

    Como qualquer preconceito, esse aqui se resolve na base dos detalhes. Quando uma mulher sai com você e te olha torto porque você não pagou a conta, nem olhe para ela pela segunda vez. Não porque ela é mesquinha. Mas porque ela não te enxerga como um igual, mas como um ser pré-estabelecido, com papeis que você não pode escolher. Quando você menos esperar, ela vai tentar te encaixar nessa vida que você não queria, nesses hábitos que ela acha que são certos. Deste jeito, vocês perdem suas identidades, e pouco a pouco passam a tentar preencher um mero papel social, que poderia se encaixar na máscara de qualquer um que passasse por aí.

    São ideais tão antigos – estes que pregam, inclusive, que existem mulheres para casar e para pegar – que dá até um desânimo de ter que explicar que eles não se encaixam neste mundo – como se já tivessem se encaixado em algum. A popular expressão de que uma mulher tem que se valorizar (ou seja, não deve dar no primeiro encontro, não deve aceitar um cara que não paga suas contas) deveria significar que ela precisa investir nela mesma e ampliar sua mente em busca de conceitos mais livres, mais calcados na expressão individual do que na carapuça social. Em vez disso, continuamos alimentando as amarras que não nos deixam sair do lugar. Quer contribuir? Nunca mais saia de um encontro sem sugerir que vocês rachem a conta.


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