Bebi café gelado, engordei um quilo, a gasolina quase acabou no meio da Marginal. Ouvi uma história de amor e lixei a unha do mindinho esquerdo. Escolhi tênis para usar. Apaguei aquele e-mail que nunca li e não era spam. Pensei em você algumas vezes, mas não quero falar disso.
Assisti a um documentário sobre crianças psicopatas e descobri uma banda nova por sugestão do youtube. Planejei viajar para a praia e comprei uma canga pela internet. Tomei remédio pontualmente ao meio dia, como nunca faço. Enchi a moringa com água apenas duas vezes. Quis beber cerveja no almoço. Entendi, mais uma vez, porque pessoas se drogam quando estão tristes. Embora eu não adie meu sofrimento. Cheguei à conclusão que a intensidade da dor ameniza o tempo que ela permanece na cabeça. E não vou chorar. Porque não consigo. E prefiro evitar o assunto.
Passei batom cor de rosa, mas escolhi um brinco pequeno. Dei bom dia ao meu irmão, aos meus cachorros. Fui feliz por cinco segundos. Pensei em sorvete de pistache, putaria, Paul Anka, teoria da conspiração e Tinder. Comprei um quilo de patinho. Abri a geladeira, bem rápido, porque está quente e tive aquele medo absurdo de que os alimentos estragassem. Joguei fora uma banana preta, que eu comprei há três semanas. Dormi três horas. Olhei pro celular algumas vezes, até que finalmente ele descarregou. Por fadiga, desprezo, medo, mentira, desinteresse, outra mulher mais gostosa ou algo que eu tenha feito e não saiba. Mas não vou pensar nisso. Nem beber em homenagem a isso. Por que não quero valorizar o momento. E também não quero falar sobre ele.
Escrevi uma poesia. Apaguei a poesia. Paguei uma multa. Me olhei no espelho por mais tempo do que o normal, procurei brilho no meu rosto; nada. Me senti mais cansada do que o normal, com menos fome do que o normal e meu humor estava cabisbaixo. Tive medo de morder pessoas. Pensei mais do que escrevi. Escrevi mais do que falei. Baixei três episódios de uma série. Aquela. Aquela que. Esquece. Não quero resgatar nada. Nem falar de nada. Quero acordar no mês que vem. Quero acordar livre disso. Queria poder ligar o som para ouvir uma música animada. Mas.
