Todo mundo já viu esse filme.
Você manda mensagem, marca encontro, corre atrás. Ele não nega sua atenção, mas também não faz a menor questão de devolver. Quando você larga de mão e desiste, aí ele resolve acordar e correr atrás do prejuízo. Mas daí ficou tarde. O assunto já chegou na mesa de bar, e as amigas concordam que o cara é um idiota.
Daí a história muda de lado.
O outro carinha todo dia quer saber de você, quer sair, quer contar da vida. É, ele é legal, mas você não consegue evitar os olhos virando toda vez que chega uma mensagem dele. Até que ele se toca, e as mensagens finalmente cessam. E daí você também finalmente admite que alguma partezinha de você gostava de receber toda aquela atenção.
Ainda assim, volta pra mesa de bar, e as amigas concordam que esse outro cara é carente demais.
De idiotas a carentes, o motivo para se relacionar parece ser o mesmo: se alimentar da energia do outro até que nossa autoestima transborde. Depois disso, tanto faz. Em vez de nos relacionarmos de verdade, estamos brincando de bem-me-quer-mal-me-quer de acordo com a nossa própria conveniência.
O fato é que uma hora essa brincadeira cansa, sabe? E da exaustão acabo percebendo que não somos tão diferentes quanto achávamos. Na busca por atenção e senso de autoimportância diante dos outros, todos nós somos carentes. E isso não é bom nem ruim; apenas nos coloca como iguais.
Todos queremos atenção. Todos queremos sentir que importamos pra mais alguém ou até “alguéns”. Isso faz parte do ser humano. Mas enquanto continuarmos buscando isso muito mais numa outra pessoa do que em nós mesmos, todos nossos relacionamentos (inclusive o que temos com nós mesmos) estão com os dias contados e fadados à infelicidade.
O carinha ou menina não estão ali só pra suprir minhas necessidades. O outro não está ali só pra me receber, consolar e dizer que pessoa incrível eu sou. O sentimento de carência, esteja ele suprido ou não, não deixa de ser uma forma de egoísmo.
Você não é o centro do universo. O mundo não está aí pra dar pra mim nem pra você que a gente acha que precisa pra ser feliz. O mundo está aí pra percebermos que, na verdade, já temos tudo que precisamos.
Somos todos carentes.
Carentes de nós mesmos.