• Nada vai ser diferente nesse ano  se a mudança não vir de dentro
  • Nada vai ser diferente nesse ano


    se a mudança não vir de dentro


    Então, é janeiro de 2015. O primeiro mês do ano e da vida completamente nova que todo mundo tanto almejou. Votos de renovação explícitos em cada rosa oferecida a Iemanjá, em cada onda pulada no litoral da praia mais bonita escolhida para abraçar esse momento completamente único, e em cada oração feita com todo o zelo e amor, deixam para trás a bagagem pesada que se acumulou por 12 meses nos ombros de cada pessoa sorridente, que decidiu no dia 31 de dezembro, mudar. Mudar de atitude, de roupa, de alma, de casa, de abrigo. A reciclagem de olhares mais do que necessária ao fim de todos os anos. Promessas de transformações, novas metas, abandonos e desapegos atrasados há tempos no ponteiro da travessia. Então, é janeiro de 2015. Passada a euforia do momento, o que de fato mudou na sua vida?

    Poucas são as pessoas que conseguem realmente abraçar o espírito da renovação de fim de ano, e entram em um ciclo de recomeços com dois pés direitos e um coração totalmente livre para começar novamente. O problema das promessas de ano novo é que na maioria das vezes elas duram a madrugada exata da virada e apenas algumas boas taças de espumante. Aquilo que deveria mudar magicamente com a despedida dos bons velhos 365 dias, parece perder o sentido já logo na primeira segunda-feira do mês. A lágrima pelo cara babaca que nem sequer respondeu as suas mensagens de fim de ano continua caindo, a lamentação pela decepção passada continua enchendo bons copos de vinho, a inscrição para o curso tão cobiçado ainda não foi feita, e toda a inércia e procrastinação jogadas ao mar junto com tantos sonhos e desejos a meia noite do dia 31, voltaram a beijar a praia de grande parte das pessoas que decidiram naquela noite seguir em frente sem olhar para trás.

    Clichê, blasé, óbvio, e tão menosprezado na vida da gente é o fato de a virada de ano ser apenas uma data simbólica. O processo de reconstrução deve ser diário, seja dia 05 de março ou 31 de dezembro. O universo não espera a passagem dos anos para milagrosamente esculpir seus efeitos. A transição de uma vida estagnada seja em uma situação, seja em valores, ou talvez nos pequenos detalhes do cotidiano, como mudar a rota de vez em quando somente para apreciar a beleza de outra travessia, acontece quase que imediatamente a partir do momento em que se decide agir. Esperar o final de um ciclo de meses para sair da zona de conforto e definitivamente tomar as rédeas da vida é sinal de fraqueza, covardia, e enfado. É justamente por isso que muitos dos nossos desejos costumam ficar apenas no papel. Coragem é artigo de luxo, não se compra em qualquer sorriso.

    Para um ciclo ser novo de verdade a vontade tem de vir de dentro da nossa vivência e isso independe da época do ano. E eu não estou aqui contando nenhuma novidade, nem nada diferente do que o seu melhor amigo te contou naquela sexta-feira sentados numa mesa de bar. Mas infelizmente, existem verdades na vida que a gente só assimila depois de muito tropeço e tapa na cara. Então, é janeiro de 2015. Não dá mais para basear toda uma existência numa simples virada de ano. Quer começar a mudança, comece agora saindo daquele relacionamento abusivo, trocando de emprego, de curso, de roupa, frequentando uma academia, viajando mais, e finalmente, aumentando o seu leque de oportunidades para ser feliz. Um ano completamente novo poderia ter começado lá em 2010 não fosse um pequeno cabresto invisível que nos retém no passado: o limite.

    Se existe uma coisa que eu aprendi nessa vida é que grande parte dos meus obstáculos existe apenas na minha cabeça. Limite é um deles. A força para chutar o balde e começar do zero mora dentro da bagagem de cada um, não importa o quão pesada ela seja. Daí a gente abre o zíper, esvazia a mala, e segue desprovido de apegos que é para um monte de coisa boa preencher o espaço de vida que a gente deixou vazio. Esse é um processo que pode e deve ser feito sempre, sem moderações. O ano novo já começou lá quando você descobriu que tinha escolhas pelo caminho, mas ele só vai se concretizar de fato quando você aceitar e abraçar a sua existência como um pássaro engaiolado num recinto aberto: ele sabe que pode voar, porém tem dificuldades em entender como funciona a liberdade. Assim é com você, assim é com o amor próprio, assim é com o 31 de dezembro.

    danielle


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