Ele se gaba por ter saído com quase todas as mulheres da cidade. Sente orgulho de ser invejado por outros caras da idade por ter conseguido tal feito. Pensa que o amigo que está com a mesma garota há anos é um doido que um dia, finalmente, cairá em si e pulará fora. Por fora, a armadura. Por dentro, tão vazio.
Esse tipo de cara existe aos montes, em todo lugar. Pensa que sendo assim o faz ter alguma vantagem sobre os demais caras ou que sempre sai por cima da situação. O fato é que conquistar, meu bem, é fácil demais. Se você for bonitinho, se na sua cidade faltarem caras disponíveis e se o alvo estiver carente, então, é mole. Qualquer um consegue. Basta mentir. Basta brincar de teatrinho. Basta não mostrar quem você verdadeiramente é. Pronto, conseguiu mais uma conquista.
A parte difícil e que exige mérito e dedicação não é essa. É o depois… É fazer com que o interesse que alguém tenha por você continue dia após dia, perdure após os defeitos, persista depois das brigas, prevaleça após as crises, insista no pós-paixão e permaneça perante a rotina. Por algumas noites, por alguns encontros, por alguns meses e até anos é fácil conseguir a atenção, o carinho, a lealdade, o encantamento e a admiração do outro. Tempos depois as coisas mudam, o entusiasmo acaba, o prato esfria e o interesse foge pela janela. Porque é fácil acender a chama, qualquer fogo consegue isso. Agora mantê-la acesa diante de vento, chuva e tempestade é muito difícil, complexo, complicado… É foda.
Aliás, posso dizer que nem a conquista você teve realmente. Não foi você que conquistou todas essas pessoas, foi a imagem que você passou, foi a ilusão que você alimentou durante um tempo, foram as mentiras que você criou, os sentimentos que você fingiu, as juras falsas que fez. Sendo assim, não há motivo para se gabar, entende? Porque não foram as suas qualidades que as fizeram suspirar, não foram os seus sentimentos que elas corresponderam, não foram os seus pensamentos sinceros que as fizeram se encantar. Não foi você, foi o seu personagem.
Entenda isso ou continue a ser só mais um quando, com esforço, poderia ser o único. Ou até continue sendo só mais um, mas deixe isso claro pra ninguém o confundir com aquele que faz a diferença. Mas se não quiser, tudo bem. Sinceramente, eu até entendo. Isso é mesmo um assunto pra homem – não para meninos.
